COMO OS PAIS PODEM AJUDAR OS FILHOS A VENCER A TIMIDEZ

Muitos pais não compreendem as crianças, seus filhos, provavelmente porque também não foram compreendidos quando crianças. O pano de fundo dessa constatação é formado por uma constelação de fatores em torno da imaturidade mental que, em geral temos, de lidar respeitosamente com as características singulares do outro.

Cada pessoa é única no universo, seja um bebê, uma criança, um adolescente, um adulto, um idoso, em constante processo de mudança cronológica, emocional, biológica. É fácil constatar as diversidades, basta ver uma vovozinha ao lado do seu neto para verificar as diferenças.

Os pensamentos dos indivíduos são igualmente diferentes uns dos outros, a respeito de si mesmos e dos outros. O que os outros pensam é diferente de como eu penso. As opiniões e formas de expressividades e de percepção do mundo são sempre singulares, assim como são nossas digitais e nossos olhos.

TIMIDEZ

Elejamos aqui a timidez, um estado de desconforto e de inibição em situações de interação pessoal, como referência para analisarmos as relações entre pais e filhos.

A timidez pode simplesmente ser um jeito natural da pessoa, uma introversão, mas pode, e é sob esse aspecto que nos interessa neste momento, ser também resultado das influências não filtradas que a criança recebe em casa e que podem provocar diversas consequências problemáticas na estrutura de pensamento dos filhos.

Um dos aspectos merecedores de atenção são os próprios estados mentais dos pais que também são singulares. Mãe e pai são diferentes entre si. Há pais que não vivenciaram um processo de amadurecimento cronológico sincrônico. Há aqueles que podem ter trinta ou quarenta anos biológicos, mas dez ou quinze no que se refere ao seu ambiente mental psíquico.

Como foi a infância desses pais? Tiveram oportunidade de dialogar espontaneamente com seus pais ou tiveram que se adaptar a condições impositivas de comportamento? Os seus pais os trataram com respeito, sabiam ouvi-los, se interessavam verdadeiramente pelo que os filhos sentiam e permitiam que se expressassem com liberdade ou foram tratados com rigidez e severidade? Em algum momento se interessaram em saber o que se passava dentro dos filhos?

Pais que não tiveram a oportunidade de se conhecerem e se expressarem terão a sensibilidade de perceber as necessidades mais profundas dos filhos? Saberiam abrir espaço para que os filhos manifestassem seus conteúdos emocionais, suas formas de ver o mundo?

Muitos pais, infelizmente, não conseguem conversar com os filhos que, por uma necessidade às vezes angustiante, procuram alternativas para conviver fora de casa, seja com os amiguinhos, colegas da escola ou professores e parentes mais flexíveis e compreensivos.

Se a timidez tiver sido provocada pelas relações sociais dentro de casa e os pais se sentirem dispostos a ajudarem seus filhos a superarem esse estado que limita sua existência, o primeiro passo, segundo o filósofo clínico Gilberto Sendtko, é conhecer o filho verdadeiramente, desde que consigam ter consciência e superarem suas “verdades prontas”, ou seja os preconceitos que se enraizaram dentro deles e que são determinantes na sua forma de “ver” e lidar com os filhos.

Ter paciência com os filhos, dialogar com eles, saber ouvi-los com respeito genuíno é possível, desde que os pais se comportem de modo adulto e responsável com os filhos que geraram.

Para aqueles que desejam ver seus filhos felizes e livres da timidez, mas não se sentem capazes de ajudar, podem procurar por uma terapia que seja mais adequada para as características únicas dos filhos. Mas não bastará levar simplesmente o filho a um consultório e deixá-lo lá o tempo que dura uma sessão psicoterapêutica. Deverão compartilhar com o filho o processo que o tornará um ser íntegro, confiante e feliz. (Carlos Rossini é pós-graduando em Filosofia Clínica)

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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