ESCURIDÃO SURPREENDE COMO UM CHAMADO DA NATUREZA

Muitas pessoas em Ibiúna e em grande parte da região sudeste do Estado de São Paulo estranharam o céu escuro de hoje pela intensa condensação de nuvens, que provocaram chuva e vento frio, o tempo todo.

Houve quem sentiu medo, medo do escuro, outros consideraram “estranho” o fenômeno atmosférico, uma mulher postou no Facebook a seguinte frase: “Quem acha este dia estranho, levanta o dedo.” Não faltou quem atribuísse o fenômeno às queimadas que ocorrem no Brasil ou à poluição ambiental e tenha testemunhado uma chuva “roxa”.

Para nós, no entanto, o mais importante foi o súbito despertar das atenções humanas para o chamado da natureza. Pela força do hábitos, as pessoas se acostumam com os dias ensolarados e quase nem se interessam por olhar o ambiente em que vivem, hipnotizados que estão com as questões imediatas relacionadas ao trabalho e à labuta pela sobrevivência.

Por isso mesmo, este foi um dia especialmente encantador e atraente por ser diferente do habitual. Se não tivesse ocorrido, passaria literalmente em brancas nuvens, aqui no sentido de não ser apreciado. Em outras partes do mundo, onde a escuridão dura meses, as emoções que este dia nos despertou lá não faria nenhum sentido excepcional. Mas, certamente ocorreria o contrário, se no meio da longa noite surgisse a luz solar.

O nosso distanciamento da Natureza marca uma linha divisória do tempo que traçou mudanças dramáticas na vida humana, desde que a escravidão se inseriu na História como uma forma de produção econômica nos mais variados modos de duras tarefas.

Com a chamada Revolução Industrial, o problema se acentuou ainda mais com a invenções de novas modalidades escravistas que submetem o homem ao encarceramento dentro de fábricas, minas, escritórios, igualmente como modo de assegurar sua sobrevivência.

Esse processo, desde o princípio, provocou muitas formas de doenças físicas e mentais que atormentam e desequilibram nossas existências naturais, que deveriam ser coerentes com o relógio biológico das pessoas.

Ao se distanciar da natureza, o homem se distanciou de si mesmo e, por isso, perdeu intensamente a qualidade dos seus sentidos, visão, audição, paladar, tato e olfato. Observe o olfato ou a audição cachorro, para ficar num exemplo, são muitíssimas vezes mais acurados do que o de uma pessoa. Ao contrário dos nossos instintos que sofreram grandes danos, o dos animais estão preservados, até não se sabe quando.

Perdemo-nos de nós mesmos, muitos nem reconhecem sua própria identidade e quando questionados sobre quem são, dificilmente saberão o que responder. Nós, sim, nos tornamos estranhos, não o dia de hoje que cumpriu sua missão natural.

Tanto passamos a depender da ditadura da tecnologia que acelerou a velocidade do tempo, que nossas mentes quase não podem acompanhar esse ritmo vertiginoso e desagregador das nossas almas. A “sociedade organizada” fez com que muitos nos tornássemos seres inseguros e medrosos, assim como dependentes de muitas drogas “lícitas” e ilícitas e de alguém que possa cuidar de nossas mentes confusas e perdidas no espaço.

A Organização Mundial da Saúde estima que uma em cada cinco pessoas sofrerá ao longo da vida de alguma forma de depressão, uma reação humana e existencial aos problemas que nos parecem infinitamente maiores do que nossa capacidade de enfrentá-los e resolvê-los. É uma enfermidade extremamente grave e preocupante e a que mais se expande mundo afora.

Por tudo isso, reverenciamos esta segunda-feira como um presente da Natureza por nos mostrar o quanto vivemos distante da realidade sempre mutante, que na sua composição de beleza é totalmente despojada de preconceitos e de preferências. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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