ENSAIO – SINAL DOS TEMPOS

 

Vivemos tempos de barbárie em nossa cidade, em nosso País, e também no mundo. A Natureza está sendo destruída, a violência impiedosa cresce a cada dia, assim como a grosseria verbal e abusada que se instituiu de forma virulenta se expande em todas as direções.

Estamos cada vez mais egoístas e individualistas, movidos por uma doença para a qual não há vacina ou antibióticos que nos cure e, logicamente, é percebida [ou não] de formas diferentes, mas que está nos tornando cada vez mais desumanos uns com os outros.

Em suma, estamos destruindo não apenas o mundo, mas a cada um de nós mesmos. Nossos relacionamentos estão se esgarçando sem que percebamos que a rede da qual fazemos parte pode romper, por quebra de emoções fundamentais como o amor, a alegria e a compaixão.

O tempo nos consome impiedosamente e nem sequer sabemos quem somos, exceto os poetas e seres sensíveis que constituem uma força de resistência contra todas as maldades que existem dentro de cada um de nós.

Imagine que você está dirigindo e o sinal fica vermelho. Você o atravessa, para ou acelera ainda mais a velocidade dos seus pensamentos? Se obedecer, como cidadão consciente de que viver em sociedade livre de conflitos é raridade, como você se relaciona com a cor vermelha que brilhará por alguns instantes, mudará para o amarelo e para o verde? Pronto, agora estou livre para seguir em frente!

O compositor e cantor Chico Buarque nos brindou com uma canção chamada “Sinal Fechado” interpretada magistralmente por Elis Regina. Simula uma conversa do nosso tempo e que reflete exatamente como estamos vivendo. O farol fecha e, então, acontece um diálogo existencial que nos toca fundo:

— Olá, como vai?

– Eu vou indo. E você, tudo bem?

– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro… E

você?

– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranquilo… Quem sabe?

– Quanto tempo!

– Pois é, quanto tempo!

– Me perdoe a pressa, é a alma dos nossos negócios!

– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!

– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!

– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos… Quem sabe?

– Quanto tempo!

– Pois é… Quanto tempo!

– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das

ruas…

– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!

A que pensamentos ou sentimentos esse poema levará você? Ao passado, ao presente, ao futuro? Ou a lugar nenhum? Tudo isso é possível, talvez porque não estejamos em lugar algum e até mesmo distantes do nosso corpo, perdidos em pensamentos sobre os quais não temos domínio, pois estamos sendo levados e não nos levando para aonde gostaríamos de estar.

Neste domingo (25), no UOL, sempre brilhante no que escreve, a atriz Fernanda Torres faz um balanço das impressões que tem dos noticiários recentes. Ela conclui que “o mundo vai acabar”, mas há um trecho sobre o qual todos deveríamos refletir:

“O terceiro milênio não cumpriu o esperado. A classe média empobreceu, os empregos foram para o brejo, a tecnologia da rede revelou o pior de nós todos e seguimos escravos do consumo e da queima suja de combustível fóssil. Só uma catástrofe de proporções bíblicas fará parar a engrenagem.”

Será que o sinal, em algum momento, ficará interrompido na cor vermelha no futuro nem tão distante? (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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