ELEIÇÕES TRANSFORMAM ELEITOR EM MAJESTADE TEMPORÁRIA

Há um silêncio eloquente entre os pré-candidatos a prefeito de Ibiúna. A regra oculta é evitar desgaste antecipado ou de “queimar o filme” antes dele ser exibido ao povo.

Além disso, há uma questão de fundo considerável que se mostra numa passagem bíblica [leia abaixo]: quem está livre dos próprios pecados e erros cometidos? Isso inclui tanto seus atos na vida privada quanto na vida pública. Todos preparam suas cascas de banana para lançar no caminho do adversário.

É da natureza dos políticos esconder o que não é do seu interesse e potencializar aspectos somente positivos. E isso tem funcionado ao longo do tempo na tradição política brasileira, assim como em nosso município.

Entre os hábitos observáveis, mas nem sempre comprovados à luz da Justiça, há a transformação dos eleitores em majestades temporárias. Dura somente até o término das eleições, quando as urnas se fecham.

Mais ainda, e sobretudo envolvendo pessoas mais humildes e carentes, levam-se e entregam-se presentes diante de tronos singelos: dinheiro, materiais de construção, cestas básicas, dentaduras, óculos, pagamento de contas, transporte ilegal, promessas de emprego, medicamentos. Tudo é feito na surdina nas casas dos eleitores, nas ruas, em reuniões com comes e bebes e por aí afora.

Depois das eleições, e isso se repete habitualmente, o eleitor é ainda um pouco mimado a fim de consolá-lo e iludi-lo, mas já perdeu sua majestade e esquecido na maioria dos casos.

Já que os candidatos procuram acessos com as lideranças religiosas e comparecem às igrejas e templos para conquistar votos usando o prestígio do condutor de rebanhos, reproduzimos aqui uma passagem bíblica oportuna no Evangelho de João.

Os escribas e os fariseus trouxeram uma mulher apanhada em adultério, puseram-na no meio de todos e disseram a Jesus: ‘Mestre, esta mulher tem sido apanhada em flagrante adultério. Moisés nos ordenou na Lei que tais mulheres sejam apedrejadas; tu, pois, que dizes?’

Jesus, porém, abaixando-se, começou a escrever no chão com o dedo. Como eles insistissem na pergunta, levantou-se e disse-lhes: ‘Aquele que dentre vós está sem pecado, seja o primeiro que lhe atire uma pedra’.

Tornando a abaixar-se, continuou a escrever no chão. Mas ouvindo esta resposta, foram saindo um a um, começando pelos mais velhos, ficando só Jesus e a mulher no lugar em que estava.” Jesus perdoou a mulher.

Ainda que não estejam livres dos próprios pecados, o que os torna cautelosos por princípio, os políticos continuam apostando suas fichas nas necessidades de sobrevivência, ingenuidade e inocência de muitos.

Se ao menos fizessem penitência e virassem as páginas dos seus cometimentos, já teriam conseguido um avanço, pois deixariam de pecar e reconheceriam que a sua maior missão é servir ao povo, respeitá-lo, tal como é, e realmente trabalhassem para que todos pudessem melhorar sua condição real de vida. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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