YOLANDA FOI SUAVEMENTE PARA OS BRAÇOS DE DEUS
Minha querida sogra foi para os braços de Deus neste sábado (7), aos 96 anos de vida. Exemplo de bondade, afeto, carinho, numa jornada que encantou seus familiares, filhos, netos, bisnetos, tataranetos e amigos.
Todos choramos por sua perda e aceitamos sua partida reconhecendo que ela cumpriu sua missão na Terra, doando seu amor, digno e generoso, sem jamais pedir nada em troca. Sua vida foi simples e exemplar de uma mestra na arte de conviver e servir aos outros com seu jeito terno e acolhedor.
Sua casa, centro de referência, como uma estalagem de parada em uma longa estrada, constantemente repleta de familiares e amigos, incluindo suas amigas de longa data, que lá compareciam para partilhar rezas. Jamais deixou de oferecer um prato de comida, mesmo para moradores de rua, passageiros anônimos que batiam à sua porta.
Landinha era um doce em pessoa, uma sogra impecável, que sempre tinha palavras certas para acalmar as almas que a buscavam nos momentos de aflições, com uma sabedoria nata e apaziguadora.
Seus pães caseiros, salgadinhos e frango com macarrão desapareciam da mesa rapidamente, por serem elaborados com suas próprias e deliciosas receitas.
A mesa, especialmente aos domingos, muitas vezes tinha dois turnos. Saia uma leva de comensais e entrava outra com seu fogão milagroso. Se faltava comida, era capaz de fazer o milagre da multiplicação e ninguém saía dali sem receber sua parte. Voltava a cozinhar.
Costurava, fazia barras, consertava roupas dos filhos, netos e bisnetos, vizinhos e amigos incansavelmente. Jamais dizia um não e sempre arranjava um tempo para fazer o que lhe pediam, sem cobrar um centavo.
Seu crochê, algo que amava fazer, está presente em muitas casas em forma de tapetes para pisos nos quartos e banheiros, toalhas de linhas desenhadas para mesa, barras de pano de prato, mantas para bebês, com um toque artesanal de quem aprendeu fazendo, ainda em sua adolescência.
Seu sobrinho, Flávio Araújo, famoso locutor esportivo da Rádio Bandeirantes, que viajou mundo afora para fazer suas transmissões, hoje com mais de 80 anos, já não podendo se deslocar do interior de Minas Gerais, por questões de saúde, postou uma mensagem comovente.
Araújo relata que tia Yolanda marcou sua vida, “como uma das criaturas mais queridas e admiráveis que este plano já produziu, por uma vida edificante, tanto por formar uma boa família, de tantos filhos, mas por estender esse amor, esse carinho, essa amizade, essa orientação a todos nós que tivemos a felicidade de conviver. Poucas pessoas tiveram sua passagem pela vida com tanta galhardia, com tanta beleza, com tanto amor, espalhando sempre a bondade e a mão amiga a nos orientar”.
Seus últimos quatro meses de vida foram preenchidos por uma atenção e cuidados primorosos. Morreu em casa, ao lado dos familiares, tendo ao lado um dos seus netos, meu filho, que se transformou num cuidador que não arredou pé ao lado de sua cama, até que seu coração parasse de bater.
Uma das enfermeiras que a assistiu no serviço de “home care” disse que nunca havia visto uma família tão unida e atenciosa com sua matriarca. Decidiu, pelo que testemunhou em todos os momentos em que lá esteve, com frequências diárias nos últimos dias, que irá fazer um’ trabalho, fruto do que observou no esplêndido amor que lhe foi dedicado vinte e quatro horas por dia. Morreu como aqueles que foram justos em sua existência, sem sentir dor e suavemente.
Um dos seus filhos, tanto em momentos do velório e quando foi, finalmente sepultada, fez uma homenagem inesquecível, fazendo com que todos ouvissem “Yolanda”, uma belíssima canção composta pelo cantor e guitarrista cubano Pablo Milanés e interpretada por Chico Buarque de Holanda.
O último trecho da música diz: “Se alguma vez me sinto derrotado/ Eu abro mão do sol de cada dia/ Rezando o credo que tu me ensinaste / Olho teu rosto e digo à ventania / Iolanda, Iolanda, eternamente Yolanda.”
Ao final, aplausos e lágrimas da multidão, em que se incluíam pessoas com dificuldades de locomoção, já idosas, que estavam ali para dar seu último adeus a Yolanda. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)