A LIÇÃO DO MENINO JESUS 

Sonhei com o menino Jesus. Estava sob os meus cuidados. Curioso, não? Alegre, sorridente, fez-me um pedido com um sorriso encantador.

Todos os meninos e meninas são Jesus.

Encontrávamos num entreposto de peixes. Os homens que ali se encontravam eram trabalhadores responsáveis e atenciosos.

Pedi a um deles que me deixasse guardar o dinheiro que se encontrava em meu bolso para mantê-lo seguro.

Permissão aceita, enfiei as notas envoltas por elástico, numa espécie de bolsa que se encontrava em um armário simples, onde havia uma pilha de dinheiro das vendas do pescado.

Jesus pedira-me que o levasse para um lugar desconhecido por mim.

Mas, de repente, Jesus desaparecera!

Passei a procurá-lo, mas, como não o encontrava, perguntei aos trabalhadores se O tinham visto. Não, não sabiam Dele.

Preocupado com a desaparição do Menino, comecei a procurá-lo, pois sentia ser imensa minha responsabilidade.

Abri algumas portas, e nada de encontrá-lo! Desespero!

Aonde foi parar Jesus? – perguntava-me, ansioso!

— Oh, Deus, ajude-me a encontrar Jesus! – exclamei em pensamento.

Os trabalhadores prosseguiam em suas atividades habituais. Enchiam caixas de peixes recobertos de gelo moído e as levavam para os caminhões.

Um vazio abriu-se em meu coração, pela falta do Menino. Mas, em momento algum, perdi a esperança de que o acharia, pois nada de mal pode acontecer com o filho de Deus.

Teria o Menino se afastado de mim de propósito, pois eu teria cometido um descuido que não se deve cometer com as crianças?

Do nada, percebi que havia um pequenino peixe em minha mão direita. O animalzinho prateado se contorcia vigorosamente, por mais que tentasse prendê-lo e não deixá-lo escapar.

— Preciso salvá-lo!

Saí em busca de um rio onde pudesse devolvê-lo à água, seu habitat natural, a fim de que pudesse continuar a viver.

Encontrei uma espécie de lagoa dividida em duas partes do alto de um barranco.

Fiquei em dúvida se deveria descer até a margem e colocá-lo na água, antes que perdesse o fôlego de vez. O lancei dali mesmo num voo direto para a superfície líquida. Desejava que logo voltasse para seu lar.

Nesse exato instante, ouvi uma voz que punha em dúvida o fato de que o peixe caíra na água e sim em sua beirada. Quis crer que sim, mas quando mirei vi que naquele ponto havia uma mancha superficial de sujeira.

Questionei-me se havia feito a coisa certa e me senti constrangido. Mas uma ideia salvou-me. Lembrei-me do vigor do peixinho e tive a certeza de que ele saberia encontrar o lado em que as águas não eram poluídas.

Cumprida a missão, recobrei a lembrança do Menino e voltei tão rápido quanto possível para o galpão dos peixeiros, decidido a encontrar Jesus. Desta vez o procurei em todos os lugares, até que, enfim, o encontrei.

Tranquilo, feliz e sorridente, Ele estava junto com um grupo de meninos e meninas de sua idade brincando em torno de uma mesa cheia de doces, na maior alegria.

— Ufa! Enfim, o encontrara.

Senti um alívio indescritível de quem encontra um tesouro.

Não queria atrapalhar a festa das crianças, mas tinha assumido um compromisso de levar o Menino Jesus para um lugar, conforme me pedira.

Meio sem jeito, me aproximei Dele que me abraçou com suave graciosidade, sabendo-me humano.

— Então, para aonde quer que O leve?

— A lugar nenhum. Este é o lugar onde queria estar. Meu mundo é junto de todas as crianças para brincar a vida.

Senti uma felicidade inexprimível, como se uma luz abençoada me banhasse de paz.

Então, percebi que dentro de mim também existe uma criança livre como Ele e que me acompanha aonde quer que eu vá.

Na verdade, fora o Menino que cuidara de mim, com uma lição simples, sublime e inesquecível. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

 

 

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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