ESTAMOS TODOS ESPERANDO O NASCIMENO DE UM BEIJA-FLOR

Na varanda de casa já nasceram rolinhas, sabiás e agora estamos esperando o nascimento de um beija-flor, cujo ninho foi construído em um ramo de uma das samambaias com fios de algodão trazidos da paina, em dezenas de voos, pela zelosa mãezinha. Como me dei conta disso? Simples. Sentei-me em uma espreguiçadeira para ler um livro, bem próximo da samambaia. De repente, aparece aquele serzinho bem perto de mim, desafiador, com suas asas zunindo em meus ouvidos. Pairava no ar, voava para trás, para cima, em parafuso, em cambalhotas e trissava, um canto de alarme, como se dissesse: “Vá embora daqui, vá embora daqui…”

Compreendi logo a razão de tamanho atrevimento. Fui até o ninho e vi lá no fundo um ovinho como uma pérola, cerca de um centímetro e meio de comprido. Bonitinho! E mãezinha passava ruflando o rumor de um par de asas batendo de oitenta vezes por segundo. Seu coraçãozinho [equivale a 15% do corpo] devia estar batendo mais de mil e duzentas vezes por minuto. E preocupada. Chegava a orbitar minha cabeça, quase a tocar meu rosto, para que eu me sentisse intimidado e me afastasse do ninho. “Não se preocupe mãezinha, não quero fazer nenhum mal ao seu ovinho.”

Embora soubesse que ela estava se estressando peguei a máquina fotográfica (fotografei sem flash) precisava registrar aquele momento tão precioso. Inventei uma camuflagem com um cobertor colorido, fiquei parado como uma estátua. É dificílimo fotografar um beija-flor. Em voo é preciso uma câmera de alta velocidade. O que consegui foi, portanto, o que foi possível diante das circunstâncias. Depois, em respeito à vida dessa mãe e do seu futuro filhote, me afastei dali, considerando-me um felizardo por acolher esse fato com carinho.

Os beija-flores são as menores aves que existem no planeta e somente nas Américas. O menorzinho chega a pesar dois gramas – é o beija-flor abelha – e o maior – o beija-flor gigante – pode pesar até vinte e cinco gramas. São bichinhos alados cheios de graça e beleza, com suas cores metálicas (dos machos são mais vistosas para atrair as fêmeas), poligâmicos e, talvez por isso, é a fêmea que cuida de tudo: constrói o ninho, incuba os ovos [a eclosão do ovo se dá em cerca de três semanas], e alimenta os filhotes, sem ajuda do macho. Na natureza, vivem em geral de quatro a oito anos. Alimentam-se basicamente de néctar (açúcares) e microinsetos e não andam no chão, pois suas pernas são muito curtas.

Mas o que é isso! Perdi o personagem desta história. Como disse, respeitei as ordens de uma mãezinha e me retirei e agora estou na torcida, esperando mais esse maravilhoso nascimento e grato por ter escolhido a varanda de casa para ter sua mimosa cria. (C.M.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.