PARQUE DO JURUPARÁ – “NÃO MEXAM COM A MINHA CASINHA”, SUPLICA GLORINHA

“Não mexam com a minha casinha, mesmo porque não tenho para onde ir. Ela é um pedaço da minha vida. Sou nativa deste lugar, meus avós já moravam aqui, assim como os meus pais.”

Essa fala comovente é de Glorinha Domingues Alves, 55, moradora numa modesta casa, ainda inacabada, na estrada principal da Colina, bairro Campestre, no Parque Estadual do Jurupará, município de Ibiúna.

SONHO DE UMA DONA DE CASA

Há alguns anos sua casa foi marcada para ser demolida, como aconteceu com muitas outras localizadas dentro do parque [algumas até mesmo fora dele] criado por decreto do governo estadual em 1992 e que despejou centenas de famílias que viviam ali, boa parte há mais de 150 anos.

Com a ajuda de uma advogada de São Paulo, está conseguindo manter sua casa de pé há, pelo menos, seis anos, mas com uma sensação de insegurança contínua.

A parede da casa de Glorinha foi marcada G472 para ser demolida. Ela imagina que “G”seja a letra inicial do seu nome e o número 472 revelaria a quantidade de casas marcadas para demolição na área do Parque Estadual do Jurupará, no mais grave problema sociai já ocorrido no município de Ibiúna e relevante no estado de São Paulo. Moradores lutam por justiça há mais de trinta anos.

Seus nove filhos se mudaram para Ibiúna. A mãe, para Cotia. Quando ela vai à cidade tem que caminhar mais de oito quilômetros para conseguir uma condução.

Sem energia elétrica, sem abastecimento de água [consome água de uma nascente] e com uma estrada [estrada principal da Colina] precária, sem ônibus, Glorinha quer que as autoridades melhorem as condições do bairro; “afinal, a gente é cidadão de Ibiúna”.

O sonho de Glorinha é poder reformar a sua casa, colocar piso, atualmente de terra batida, e que arrumem a estrada que frequentemente fica intransitável, de tantos buracos.

Parede da casa de Glorinha
Pia da casa de Glorinha: á água vem de uma nascente próxima

MUITAS FAMÍLIAS FORAM EXPULSAS

Ao todo mais de 600 famílias foram atingidas pela força do decreto, não podendo mais plantar, criar animais, assim como perderam suas casas que foram demolidas, apesar de possuírem matriculas registradas em cartórios, bem como os sitiantes possuírem títulos de posse.

A AJA – Associação dos Moradores e Sitiantes do Jurupará e Adjacências vem se mobilizando contra os efeitos nefastos das medidas jurídicas adotadas pelo governo estadual que, resultou, por exemplo, na expulsão de mais de 200 famílias que ali viviam.

No piso de terra batida, a cozinha de Glorinha. Ela quer fazer uma melhoria em sua casa, mas vive sob o medo dela vir a ser demolida
Fogão a lenha, água de nascente, luz de vela…assim Glorinha toca a vida em sua casa

JUSTIÇA FEZ VISTORIA

Fruto de uma luta sem trégua essa questão que viola direitos fundamentais dessas pessoas já chegou ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo – TJSP e ao Conselho Nacional de Justiça – CNJ.

Por isso, dois juízes de direito da Comarca de Ibiúna, um veterano juiz de Sorocaba, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo e dois oficiais de Justiça de Ibiúna visitaram o local na última quinta-feira (16), para colher depoimentos de moradores. O prefeito de Ibiúna também esteve presente.

Caberá ao juiz de Sorocaba fazer o relato da situação observada que seguirá para o TJSP e CNJ.

AJA LAMENTA

O presidente da AJA, Marcos Adelino, em contato com vitrine online, lamentou que a entidade não tivesse sido convidada para  acompanhar os trabalhos e que pedirá uma nova vistoria.

Adelino informou que representantes da AJA e o jurídico da AJA estiveram no Conselho Nacional de Justiça, em Brasília, por duas vezes, e que o objetivo de uma vistoria solicitada era levantar “os casos mais graves de reintegração de posse para constatar in loco a realidade”.

Dizendo-se decepcionado, o presidente da AJA pontuou: “Eles foram a uma comunidade tradicional no bairro dos Paulos, que é reconhecida pelo governo”.

A solução desse grave problema compete ao governador Tarcísio de Freitas, a partir do conhecimento desse grave problema social. Sua atitude poderá marcar sua sensibilidade em relação ao povo, na maioria humilde, violado em seus direitos fundamentais, por um decreto do governo estadual baixado em 1992

TVUNA e vitrine online estão veiculando uma série de notícias e de vídeos gravados no Parque Estadual do Jurupará e vizinhanças, por considerar que se trata de uma questão de justiça da maior importância social e econômica, que precisa ser levada ao conhecimento da sociedade e das autoridades.

Vitrine online e a TVUNA, que já estiveram em duas oportunidade no Parque Estadual do Jurupará, estão veiculando uma serie de notícias e de vídeos com imagens captadas na região.

Nota da Redação: as fotos reproduzidas nesta notícia foram extraídas de um vídeo feito pela sra. Glorinha Domingues, exceto a foto da parede com a marCa “G 472”, que ela nos enviou via zapp.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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