A MISSÃO DO JORNALISTA NA SOCIEDADE
“Saber o que é correto e não o fazer é falta de coragem”, disse Confúcio, o grande sábio chinês, de um modo filosófico inspirador para orientar a conduta humana.
Se a gente convidar as palavras ética e moral para esta nossa conversa, então poderemos – por que não? – lembrar a missão do jornalista na sociedade.
Jornalista que não faz o que é correto talvez esteja equivocado em suas funções e não cumprindo o papel que lhe cabe na comunidade humana.
Sinto-me um operário das palavras. Melhor, talvez, seria dizer aprendiz de escritor de notícias a serviço da espécie humana, não importa se em uma grande cidade como São Paulo, Nova Iorque ou Tóquio, mas igualmente numa pequena cidade do interior com suas peculiaridades e maneirismos culturais.
A verdade contida nos acontecimentos, ainda que com os limites relativos dos nossos sentidos, principalmente visão e audição, deve ser o leitmotiv desse profissional, o motor de suas ações no seu dia a dia.
A construção da notícia depende da capacidade cognitiva em relação aos fatos que precisam ser reconstituídos simbolicamente a partir de eventos em geral imprevisíveis e aparentemente desconexos. É como montar um jogo de quebra-cabeça, para que a forma final apresentada faça sentido para as pessoas.
A realidade muitas vezes não é percebida em toda a sua extensão porque há uma vasta diversidade de fatos, aparências, ações e comportamentos.
Por exemplo, a burocracia presente nas instituições públicas é uma forma de autoproteção para que suas fragilidades e temores permaneçam encobertos do olhar público. Por outras palavras, há informações que são mantidas e ocultas da população.
Li e compartilho com você, leitor/a, a seguinte questão: “Sabe por que os políticos não resolvem a maioria dos problemas que nos afetam? Porque se eles resolverem ficarão sem ter o que fazer.”
Então, o que eles fazem é criar diversões para ocupar a mente das pessoas a fim de que elas se distraiam dos problemas reais. Quer um exemplo clássico desse procedimento despudorado?
Em 2020, durante uma reunião ministerial, o então ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles usou a frase “passar a boiada”, que ecoou pelo país.
Sua sugestão visava a aproveitar o momento de foco da mídia e da opinião pública na pandemia de COVID-19 para aprovar medidas que enfraquecessem a legislação ambiental brasileira.
Esse tipo de comportamento, com uma infinidade de variantes, conforme convém a cada situação, é praticado habitualmente no meio político para a conservação do poder ao longo do tempo. É empregado como instrumento de manipulação da fé pública.
Portanto, ainda que as autoridades ajam de modo a encobrir seus interesses e não atendam às demandas da imprensa, ou respondam fazendo recortes da realidade num jogo de esconde-esconde, a missão do jornalista, longe do patamar da bisbilhotice, é persistir na busca da informação correta.
Seu empregador, já que vivemos no complexo universo do sistema capitalista, é aquele que paga todas as contas com os impostos e seu trabalho diário: o leitor, o telespectador e o ouvinte.
Certamente há autoridades conscientes e que atuam em seus cargos com responsabilidade e a transparência necessária, e possível, mesmo por que, como lembra o célebre ditado popular: a mentira tem pernas curtas. (Carlos Rossini, diretor da TVUNA e editor de vitrine online, foi professor de jornalismo mais de 20 anos)
