OPINIÃO – A IMPRENSA NECESSÁRIA EM IBIÚNA E O CAMINHO DAS PEDRAS

Nesta sexta-feira (4), vitrine online viveu uma rica experiência de aprendizagem em relação às implicações de um fato envolvendo um grupo de interesse específico, a prefeitura e a Justiça em torno de um fato cujas origens remontam ao ano de 1998.

Viveu o ciclo completo da apuração das informações ouvindo ao máximo possível os personagens envolvidos e não apenas aquilo que virou um cacoete que restringe a percepção ao mito de que “é preciso sempre ouvir os dois lados da questão”. Sustentamos que são raras as vezes em que um fato apresenta apenas dois lados. Podem existir três, quatro, cinco ou mais fontes a serem consultadas, o que contribui efetivamente para que haja maior proximidade da verdade – o principal objetivo de busca do trabalho jornalístico.

Então, com esse modo de encarar os acontecimentos se descortinou um cenário mais claro e, diria também, mais justo na avaliação das “verdades”apresentadas pelos interesses parciais dos personagens que entraram em cena e as peculiaridades ocorridas na linha do tempo.

Os conteúdos colhidos permitiram descobrir, juntar e comparar ocorrências a ponto de se encontrar a origem do problema surgido agora localizada há catorze anos. Esta simples referência nos remete para um dos mais sérios desafios da gestão das coisas públicas: a repercussão das ações de um governo sobre outro, como contratos viciados, dívidas não honradas, desvio de verbas públicas para bolsos particulares, corrupção, prevaricação, inconsequências, etc.

O processo de apuração dos fatos evocou diversos temas e vieses que, não devidamente avaliados, pode levar a informações incorretas, distorcidas, improcedentes, injustas ou, o que é pior, servirem a interesses de grupos políticos antagônicos.

Resumindo, toda vez que um veículo de imprensa age de modo superficial, apressado, preguiçoso, inconsistente ou vinculado a outros interesses, não relativos à observação das regras às boas práticas do jornalismo profissional, está contribuindo para o próprio descrédito.

Supostamente, ninguém pode ser contra a verdade, mas quando as regras integram o barbarismo da conquista e manutenção do poder a qualquer custo então fica mais difícil atravessar o caminho das pedras. Exatamente aí reside o valor de escolha entre o bom e o mau jornalismo.

Ouvindo as pessoas, é notório que elas querem um jornalismo sênior, elevado, ético, tão independente quanto possível, algo que mereça crédito para ser consumido como produto cultural.

Nesse mesmo dia, como dissemos no início, tão enriquecedor mesmo para um profissional de longo curso, não há como negar que há uma busca, um desejo de que surja algo novo no jornalismo ibiunense. Pelo menos duas mulheres, além do fato principal já mencionado, procuraram vitrine online para fazer denúncias, ao mesmo tempo pediram discrição em relação à fonte, por temerem algum tipo de represália. Para crescer, Ibiúna precisa superar esse hábito provinciano.

 

Carlos Rossini é editor
da vitrine online

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.