COMPRADORES DE TERRENOS CLANDESTINOS VÃO À DELEGACIA; UM VENDEDOR É PRESO EM FLAGRANTE

Um, dos mais de uma dezena de vendedores de lotes clandestinos, que vinham atuando em terras griladas na altura do km 8 da Estrada da Cachoeira [veja noticiário abaixo], foi preso em flagrante nesta segunda-feira. Por volta do meio-dia ele se encontrava nos fundos da Delegacia de Polícia local, enquanto no atendimento do público, na frente, mais de dez compradores de lotes faziam o boletim de ocorrência, depois que ficaram sabendo da fraude de que foram vítimas.

Alguns já moram no local outros o frequentam nos fins de semana. Ao todo estima-se que pelo menos cem pessoas ou famílias adquiriram lotes que, segundo eles, vinham sido ofertados havia anos. “Isso não começou agora, não”, disseram à vitrine online na porta da delegacia. “Teve gente que pagou à vista e nós não sabemos o que vai acontecer com a gente e nossos barracos.”

Pessoas simples, os adquirentes dos lotes vieram de Osasco, Itapevi, Barueri, Diadema, Jandira, Itaquaquecetuba, Guarulhos, Jabaquara e de outras localidades atraídas por indicações feitas boca a boca e por telefones celulares. Quando chegavam no local viam uma escritura de propriedade da área [provavelmente falsa] e, posteriormente, assinavam um compromisso de compra e venda [as assinaturas de ambas as partes tinham a assinatura com firma reconhecida] que, até mesmo para um leigo, aparenta não ter validade alguma. Crédulas, as pessoas achavam que tinham feito um bom negócio, dentro de suas posses, até que começaram a perceber que havia algo estranho em toda a história que vinham ouvindo. Finalmente, na última sexta-feira, o loteamento clandestino foi descoberto pelas autoridades municipais, depois de terem recebido denúncias anônimas, que iniciaram diversos procedimentos para embargar as atividades ali desenvolvidas. Uma das medidas já acertadas é que a Cetril – Cooperativa de Eletrificação Rural de Ibiúna não procederá ligação de energia elétrica para nenhum daqueles lotes.

Segundo um dos compradores, até mesmo a dupla de repentistas Castanha e Caju teria caído no golpe dos vendedores. Em um dos contratos verificados por vitrine online se constata que o vendedor mal sabe assinar o próprio nome, o que não modifica em nada a lesão e os danos causados para pelo menos mais de duas ou três centenas de pessoas. Os nomes dos demais vendedores [descobertos até agora] já fazem parte do processo em andamento e  eles, assim que descobertos, serão chamados a depor.

Pessoas que estão morando no local mostravam-se preocupadas se suas casas seriam derrubadas [o que muito provavelmente vai acontecer, de acordo com notícia publicada ontem sob o título “Bairro da Cachoeira – Barracos do loteamento clandestino podem ser derrubados imediatamente”] – e se poderiam retirar seus pertences antes que isso acontecesse. A venda dos lotes clandestinos transbordou agora também para a área social, além dos crimes ambiental e de parcelamento irregular de terra.

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.