DIA DOS NAMORADOS – O AMOR É UMA DAS MAIS GRATIFICANTES FORMAS DE RELAÇÕES HUMANAS

Foi hoje pela manhã. De repente, fiquei zangado por uma bobagem qualquer relacionada ao café. Conduzido pelas asas do mau humor lancei uma tempestade de palavras afrontosas. Mas, minha mina não só me conhece como vem ganhando personalidade e enfrentando esse meu jeito estúpido de ser que é fruto de uma corredeira emocional que, muitas vezes, impede o controle do caiaque continuamente agitado pelas águas dos pensamentos.

Mas ela teve personalidade. Encarou-me. Disse que olhasse em seus olhos bem abertos, enquanto eu lhe dava as costas [evitando certamente o poder do seu olhar profundamente convincente]. “Nós já não temos mais idade para briguinhas sem sentido. Você sabia que lá em São Paulo [estando no apartamento de sua irmã] um jovem casal brigava verbalmente aos berros? Toda vizinhança saiu na janela para ver o que estava acontecendo.”

A moça, em prantos, gritava: “Não adianta prometer, você promete e não cumpre. Não adiante falar de razão, quem não tem razão é você. Estou cansada de suas promessas. Vou embora daqui.”

A vida a dois realmente não é um mar-de-rosas. Nem todos os casais vivem vinte e quatro horas de enamoramento. Há diferenças por que cada pessoa tem suas características e navegar sobre certas ondas e vagalhões que se encontram na rota da vida a dois que, muitas vezes, exige uma regulagem de comportamentos recíprocos que, negligenciada de modo crônico, pode acarretar uma ruptura da relação.

Há os que creem que a maior causa de separação de casais é devida a dificuldades econômicas, enquanto outros apontam a monotonia ou glacialidade nas relações sexuais; mas existem outras causas e todas desembocam em agressividades verbais e mesmo físicas num processo regido pela tendência que temos desde nossa infância de destrutividade.

A palavra amor vem de a-mors e significa ‘ausência de morte’, ou seja, amor é vida e o enamoramento é uma forma muito especial de relações interpessoais com intensa, às vezes profunda, raiz emocional. Os ingredientes incluem aparência física, olhares, gestos, comportamentos, falas e uma complexa química que faz até mesmo os humores fluírem e exalarem o “cheiro do amor”.

As relações interpessoais, no nosso caso, de natureza amorosa, resultam de uma atitude positiva para com o outro ou outra que geram uma vivência gratificante e importante fonte de apoio, de um indivíduo para o outro.

O casal é protagonista da relação e relação é a influência que uma pessoa exerce sobre a outra. É um vaivém de palavras, toques, gestos e atitudes que abrangem toda a personalidade. A vida a dois precisa ser aprendida com a descoberta progressiva de interesses, de atitudes e de valores comuns, através da autorrevelação recíproca.

Usando o chavão de que Dia dos Namorados são todos os dias, parece preciso lembrar que cada caso é um caso. As histórias do amor recíproco são singulares e cada qual é vivida em seu tempo desde nossa adolescência até a senescência, até que fiquemos velhos. De qualquer modo, de todas as relações interpessoais, a mais prazerosa, há quem possa discordar, é essa em que estamos apaixonados e que o mundo parece existir só para nós dois e o tempo suprimido do calendário. (C.R.)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.