OPINIÃO – SE A ELEIÇÃO FOSSE AMANHÃ, EDUARDO CAMPOS VENCERIA FÁCIL

Quando minha cunhada ligou hoje pela manhã, foi logo perguntando “você sabe o que aconteceu?”. “Não”. “O Eduardo Campos, candidato a presidente da República, morreu”. “O que aconteceu, acidente de avião?” “É o avião em que ele estava caiu em Santos.” Atordoado pela surpresa, imediatamente senti grande tristeza. Nada sabia dele, além de sua condição de candidato e o fato de ser um político pernambucano e neto de Miguel Arrais. Com ele, morreram também dois pilotos do pequeno avião a jato e mais quatro pessoas da equipe da campanha do ex-candidato.

A repercussão de sua morte trágica, noticiada também em todo o mundo, fez com que ele se tornasse a pessoa mais conhecida, até mesmo em sua vida particular, em todo o Brasil.

É natural numa situação como essa que haja mesmo comoção pública. Jovem, aos 49 anos, e aparentemente promissor e uma possibilidade de renovação na política brasileira, Campos foi o dia todo elogiado em todos os segmentos de sua vida: como pai, marido, governador, deputado, amigo. Dilma Rousseff e Aécio Neves, os dois outros candidatos à Presidência, suspenderam suas atividades da campanha eleitoral e deram seu testemunho de respeito à figura cuja vida foi interrompida exatamente quando partia para um salto que poderia ter consequências históricas diferentes da tradição política brasileira nas últimas décadas. Infelizmente, essa possibilidade se dissipou.

Mas há um fato, muitas vezes pouco contemplado em nosso campo de observação por nosso envolvimento emocional com fatos tristes como esse. De A a Z, Eduardo Campos foi consagrado e teve seu perfil público de tal forma configurado que, se a eleição fosse amanhã ou depois, ele certamente estaria eleito por maioria absoluta de votos no primeiro turno. Talvez até mesmo Dilma e Aécio votassem nele. Foram tantas as virtudes nele exaltadas que, sinceramente, ele se tornou o melhor candidato para assumir a faixa presidencial, uma espécie de unanimidade nascida, construída e formatada em apenas um dia. Esse é um fato raro.

Por desígnios que estão além de nossa compreensão ele desaparece assim, numa manhã chuvosa, num moderno avião que explode contra o chão e se pulveriza. Será lembrado por muito tempo e sua imagem sorridente e seus olhos verdes permanecerão em nossa lembrança que vinha se aproximando cada vez mais do Brasil que queria presidir, depois de acumular experiências político-administrativas bem-sucedidas em seu estado.

De alguma forma, Eduardo Campos, como socialista, pessoa e personagem, nos deixa uma lição: é possível ver a política sob novas luzes e, no mínimo, tentar modificar vícios políticos resistentes e que estão muito longe de um verdadeiro cenário democrático, em que o povo é o personagem central da história. De acordo com seu único irmão, Campos queria “melhorar o Brasil”. (C.J.)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.