O PÉ DE PITANGA E A ÁRVORE DO CONHECIMENTO

Esta crônica é uma homenagem aos meus ex-alunos da Faculdade Montessori e da Estácio [mais de quinhentos] e também à juventude ibiunense, para que acreditem que é possível realizar seus sonhos por meio da aquisição contínua dos conhecimentos necessários. Aliás, a busca do conhecimento é a mais importante atitude dos homens para se libertarem das ilusões que nos impõem ideológica, política e economicamente. Se o homem está destinado à liberdade, como pregou Sartre, é hora de experimentá-la sem gula, mas corajosamente.

Na condição de professor de comunicação, sociologia e de gestão do conhecimento, fui convidado a compor mesas examinadoras dos trabalhos dos graduandos. Percebi que tinha fama de exigente e rigoroso e que alguns estudantes até preferiam cair com professores “bonzinhos”. Nada disso, queria mesmo contribuir para que os autores das monografias percebessem o que não tinham “visto” em seus trabalhos, apontava inconsistências, incoerências, superficialidades [tão comuns no estilo “corta e cola”], que se tornou comum graças ao abençoado Google, como fonte de conhecimento. É preciso estabelecer limites e métodos para aproveitá-lo positivamente.

Mas vamos ao que interessa. Lia integralmente os textos monográficos, fazia marcações, anotava pontos que podiam merecer comentários ou revisões críticas. É natural que o aluno diante de uma banca examinadora sinta nervosismo e, por isso, talvez  os examinadores fenomenologicamente apareçam como seres ameaçadores. Nada disso! Estamos sempre ao lado do aluno, que é um ser especial e merecedor de todo respeito pela sua própria condição de aprendiz que, aliás, ensina muito ao professor, mais do que se imagina.

Uma dessas alunas [foi aprovada, deixemos bem claro isso] estava nervosa, mas determinada do ponto de vista de autoexpressividade. Trouxe mudas de pitangas que gentilmente ofertou aos professores. Ganhei também a minha. Ao plantá-la no quintal de casa, acreditem, agradeci a aluna à distância e conversei com a planta, ainda com cerca de pouco mais de meio metro de altura, e pedi que ela crescesse vigorosa, bonita e feliz. Em determinado momento tive que agir com diligência porque a planta fora atacada pela terrível combinação de formigas e pulgões que se multiplicavam em seus jovens ramos. Cheguei a desesperar e limpei com minhas próprias mãos cada galho,ramo, tirando folhas caídas de outras árvores adultas. Foi um combate muito legal! Na verdade e metaforicamente ali estava minha querida aluna batalhando para crescer. Na condição de banca examinadora estava cuidando do símbolo de uma relação de amor com o aprendiz.

Agora vem a melhor parte. [Veja a exuberância!] A árvore já é uma jovem adulta linda. Ainda há pouco encheu o ar de um perfume inconfundível de suas delicadas flores. Em seguida todas as suas folhas caíram e surgiram outras de um verde claro encantador. Logo virão os frutos de sabor inconfundível, levemente vermelhos, delicados. Assim pode estar a querida aluna. Nada há de mais delicioso para um professor do que ver que seu aluno cresceu e criou condições para sua autorrealização. Obrigado, aluna e alunos. De seu professor-aprendiz. P.S.: O pé de pitanga já faz acompanhar por uma sombra considerável. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.