DIA DA CRIANÇA – QUE TAL SE O MUNDO INTEIRO SE TORNASSE UMA PEDOCRACIA?

Liguei agora há pouco para meu netinho que mora em São Paulo. Ele tem onze anos. Perguntei, Léo o que significa o Dia da Criança para você. Ele respondeu: “É o dia em que as crianças governam o mundo”. E acrescentou com espirituosidade: “Na verdade ninguém é governante do mundo por inteiro” e completou: “As crianças devem ser amadas e respeitadas todos os dias e também no Dia das Crianças”. Tentei obter mais algumas informações, mas ele foi categórico. “Não tem mais, não sou “fisólofo, argumentou brincando com a palavra.”Fiz minha parte e agora é com você. Escreve que vai ficar bom.”

Parei um instante para refletir ou sentir meu coração. O que dizia? “Criança é a renovação da vida. Criança é fruto do amor. Criança é amor. Criança é pureza. Criança é esperança. Criança é sonho. Criança é liberdade. Criança é essa coisa linda, capaz de pensar sem preconceito. Criança é mestre dos adultos inteligentes e sensíveis. Criança é sabedoria natural. Criança é o esteio eterno do adulto. A canção diz: “Quando o adulto balança, a criança vem pra me dar a mão…”. Criança é verdadeira e autêntica. Criança é criança. Criança é fruto de si mesma e das circunstâncias em que é recebida e influenciada pela mãe, desde que nasce, pela demais familiares e  pelo que vem em seguida no mundo, quando sai de casa para a escola e estabelece novos relacionamentos sociais.

Por tudo isso e muito mais que poderia ser desfiado nessa linha de raciocínio, o Dia da Criança não pode ser visto como a alegria do comércio, mesmo que assim o seja, mas como o dia em que a criança possa ser o governante do mundo, isto é, ser respeitada tal como é e não ser tratada como alvo das frustrações dos adultos, ou mesmo violentadas, agredidas, abandonadas, como muitas que se veem vítimas de adultos que mais se parecem ainda não terem superado o estágio da animalidade bruta.

Ainda agora, enquanto escrevo, sinto uma dor brutal ao recordar a cenas de torturas insuportáveis praticadas em Bernardo Uglione Bodrini, 11, por seu pai e sua madrasta cruel e fria. Pai inconsequente, ordinário, omisso, deixou que seu filho fosse assassinado por sua abominável mulher, numa pequena cidade do interior gaúcho chamada Frederico Westphalen.

Há crianças afortunadas, amadas, respeitadas, queridas por seus pais e que são bem tratadas, mas sabemos que muitas vivem sem afeto básico, sem o carinho e amor que formam a base da personalidade segura e confiante. Ao contrário, são desprezadas, enxotadas, como cães vira-latas. Por isso, no Dia da Criança, o mundo deveria parar e reverenciar a criança.

A forma como tratamos nossas crianças reflete nosso grau de civilidade e, pelo menos até agora, sabemos que a sociedade doentia é incapaz de lidar com as crianças de modo saudável, consciente e amoroso.

Encerro com as palavras de Albert Einstein: “Estranha é a nossa situação aqui na Terra. Cada um de nós chega para uma breve visita, sem saber por quê, parece que às vezes por um propósito divino. Do ponto de vista da vida cotidiana, porém, existe uma coisa que sabemos de fato: que estamos aqui pelo bem dos outros.”

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.