UMA PALAVRA QUE NÃO PODE FALTAR NO DIA DO PROFESSOR…GRA-TI-DÃO

Nenhuma destas palavras que você está lendo agora estariam aqui, se o seu autor não tivesse aprendido a ler e a escrever com os professores que o alfabetizaram, isto é, lhe abriram a porta de entrada para o mundo. Por isso, nesta quarta-feira (15), Dia do Professor, uma palavra que não pode faltar: gra-ti-dão.

A lembrança que trago de todos eles é que foram maravilhosos, com uma única exceção, uma professora de genética, na faculdade, conseguiu tirar-me a curiosidade dessa área de conhecimento tão importante. Mas, descontando essa pequena exceção, sem os professores eu seria muiiiiito, muito mais ignorante do que sou.

Mais de quarenta milhões de brasileiros [incluo-me entre eles] foram alfabetizados pela cartilha “Caminho Suave”, que sustenta um método de alfabetização criado pela educadora Branca Alves de Lima [1911-2001].

Em 1997, em entrevista à Folha de S. Paulo, Branca Alves de Lima esclareceu como criou seu método. Ela lecionava em pequenas cidades no interior paulista utilizando uma prática pedagógica para alfabetização chamado “método analítico”. Em 1945,  com o fim do Estado Novo [período ditatorial implantado por Getúlio Vargas, durou oito anos], as autoridades do Ministério de Educação e Cultura – MEC concluíram que o “método analítico” estava superado, e deram liberdade didática aos professores.

Ao observar as dificuldades de seus alunos, a maioria da zona rural, Branca Alves de Lima desenvolveu o método que ela própria denominou “alfabetização pela imagem”. A letra “a” está inserida no corpo de uma abelha, a letra “b“, na barriga de um bebê, o “f” fica instalado no corpo de uma faca, a letra “o“, dentro de um ovo e assim por diante.

Caminho Suave e Sodré (de Benedita Stahl Sodré, criadora da Cartilha Sodré), de acordo com especialistas em pedagogia são os únicos métodos autenticamente  brasileiros de alfabetização em português. O método da cartilha Caminho Suave começa pelas vogais, forma encontros vocálicos e depois parte para a silabação, unindo o processo analítico ao sintético, facilitando a aprendizagem.

Em 1995, a cartilha Caminho Suave foi retirada do catálogo do MEC e um novo método de alfabetização baseado no construtivismo [utiliza as teorias de Jean Piaget que, em suma, se inspira no fato de que os indivíduos constroem e organizam sua inteligência na interação com o mundo, de forma cada vez mais elaborada, por etapas].

“Casa pequenina”.

Quem aprendeu a ler pela Caminho Suave pode agora recordar um poema escrito pela educadora Branca Alves de Lima, e publicado na cartilha:

Uma casa na colina,

Pequenina Amarela,

Um quartinho, uma cozinha

E gerânios na janela.

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Ciscando lá no terreiro

Um galo, um peru e um pato

E o céu azul espelhado

Na água mansa do regato.

 

Muito verde em toda a volta,

Trepadeiras na cancela,

Uma mãe e uma criança

Completando a aquarela.

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.