NAUS PORTUGUESAS FANTASMAS ESTÃO COM AS PROAS APONTADAS PARA IBIÚNA

Diz a história que uma calmaria incomum acabou afastando as naus portuguesas que se dirigiam para a Índia, então um mundo atraente por sua prosperidade dourada, incluindo especiarias, sedas, perfumes…e assim, por um mero acaso atmosférico, o Brasil teria sido descoberto. O município de Ibiúna se encontra assim neste momento, em uma insólita calmaria, não temporal, mas político-administrativa, que chega a surpreender os munícipes mais atentos, e bons intérpretes de intempéries em que predomina o silêncio, a cautela e, sobretudo, a espera do que vai acontecer e o que se descobrirá na sequência.

Por um raciocínio absurdo, no sentido científico do termo, não há aparentemente nada a criticar nesse contexto, considerando como crítico fidedigno aquele que esteja consciente de um plano mais alto de percepção e também de uma ordem melhor do que a existente para expor sua contribuição. Estamos num momento que se diz o que é possível dizer, sem que se criem marolas em um ambiente extremamente frágil, há que se reconhecer.

Até mesmo os personagens estelares talvez não devam ser alvo de deslumbramentos verbais desconfortáveis. Transformaram-se de personalidades causadoras a vítimas das coisas causadas. Estamos todos diante do que pode ser resumido na frase “é isso aí”, e nada muito mais do que isso, por razões já referidas porque os cristais são por natureza quebradiços, uma vez manipulados sem a devida destreza e o cuidado indispensável e precisam ser embalados e protegidos por algodão.

A cautela do momento se tornou imperativa porque as circunstâncias assim o exigem. Há de fato um estado de insegurança em que as grandes operações precisam ser evitadas ou adiadas ou temporariamente esquecidas intencionalmente. Em vez disso trata-se de agir em torno de ações anódinas ou paliativas, até que o tempo traga novo alento e com este, uma nova cartografia para navegar esses mares misteriosos.

Irresolutos, todos caminhamos em busca do tempo perdido, ainda envoltos pela esperança de que haverá, enfim, a mudança de rota, porque, na tela do tempo, pode surgir o sentido da direção a ser tomado e isso poderá ser o ponto de partida do caminho para a frente que é para aonde se anda, como diz a canção. Esta é uma oportunidade de grande aprendizado, ainda que poucos estejam dispostos verdadeiramente a enxergá-lo, mas isso já é outra história, ou será a mesma história percebida de um ponto de vista diferente?

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Carlos Rossini é editor

de vitrine online

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.