VITRINE ONLINE COMPLETA 2 ANOS E PRESENTEIA SEUS LEITORES
Vitrine online completa este mês seu segundo aniversário. Olhando as flores no jardim, seu editor perguntou [a elas]: “Que presente oferecer aos nossos caríssimos leitores, neste momento tão significativo? Nossa expectativa era atingir 200.000 acessos até o fim de dezembro, número que ultrapassamos com folga já há alguns dias. Aliás, com precisão matemática e de modo explícito, os leitores podem acompanhar, a qualquer momento, os números de acessos, pois eles aparecem no rodapé das páginas continuamente. Isso faz parte de nossa política de transparência e de compromisso com a verdade. E, felizmente, muitas pessoas já compreenderam nossos propósitos editoriais.”
Uma leve brisa faz as flores dançarem livres no ar. Já, de noite, haviam perfumado e purificado todo o lugar – que é sagrado, posso garantir. Como as flores se fazem flores? Desta simples indagação filosófica brotou outra: O que faz os seres humanos, humanos? Não fisicamente, entendam, mas essencialmente, o que os faz existir, se movimentar, ter sentimentos, pensamentos, amor, paixão, se relacionar uns com os outros? O que os fazem ter fé, enfrentar tsunamis e outras ameaças e avançar, a despeito das dores que inapelavelmente sentem ou vão sentir na vida? Onde, enfim, a pessoa é real e não apenas uma ilusão vivente no espaço? A felicidade o que é?
Em busca de resposta, para doá-la com amor ao próximo, fomos como uma flecha na direção, não da maçã sobre o couro cabeludo, mas ao interior do cérebro onde mora nossa alma, nossa mente, onde ambos cérebro-mente atuam e definem quem você é verdadeiramente. Veja então quão fantástico é o nosso mundo mental.
Um universo mágico
Na verdade nosso cérebro é um misterioso universo, tão imenso quanto o Cosmos. É formado por cerca de 86 bilhões de neurônios, que representam 50% do total da massa cerebral. É capaz de realizar 860 trilhões de contatos, chamados sinapses. Cada neurônio pode se “comunicar” com até mais de 10.000 outros neurônios numa velocidade impressionante.
Quem já viu uma tempestade sobre a Terra filmada por um desses satélites que circundam nossa casa cósmica pode ter uma vaga ideia das frenéticas descargas elétricas que coriscam no espaço e imaginar algo parecido com o interior de nossa caixa craniana, pois as conexões internas são feitas por uma força eletroquímica numa espécie de sopa orgânica.
Agora dê um passo a mais em sua imaginação. Uma atividade frenética contínua de disparos de substâncias químicas que podem ter seus fluxos alterados inesperadamente ou mesmo bloqueados. Ainda que seu funcionamento tenda sempre a preservação da vida – emitindo e recebendo sinais do corpo – está sujeito a toda sorte de interferências de natureza bioquímica e de acontecimentos exteriores. Um susto qualquer, para citar um exemplo, pode instantaneamente disparar processos automáticos de velocidade insuperável do mais veloz dos computadores hoje existentes.
Pesquisas recentes no campo da neurociência buscam provar que o que chamamos de livre-arbítrio não existe, que nosso cérebro é que toma decisões automáticas sobre as quais não temos controle, agindo mais rápido do que o tempo em que possamos ter um pensamento.
Traduzindo, isso significa que, de fato, nossas escolhas não são determinadas por nossa vontade e o cérebro é que tomaria as decisões, o que nos põe diante de uma insuficiência: não agiríamos de modo livre e consciente.
O neurocientista e professor da Universidade da Califórnia (EUA), Michael Gazzaniga, informa que “nossas decisões são programadas automaticamente a partir do que trazemos em nossa carga genética e das experiências de vida que tivemos”, desde a nossa infância mais remota.
“Quando uma questão chega à nossa consciência – explica – ela já havia sido previamente decidida em uma parte de nossa mente a que não temos acesso.”
Se essa idéia fosse levada ao pé da letra, seria possível cometer todos os tipos de atos tendo-se como fundamento que “não fui eu e sim meu cérebro”, aliás isso ocorre com alguns criminosos psicopatas que dizem ouvir vozes a comandar seus atos repulsivos.
Em entrevista à revista “Galileu” [abril, 2013, nº 2611], Gazzaniga não acredita que isso irá ocorrer: “Embora nossa consciência não esteja no comando como pensávamos, nosso cérebro automático é capaz de aprender regras sociais”, o que implica normas de sociabilidade, respeito ao próximo, sentido de dever, ética, etc. Daí a importância da Educação como grande esperança no processo civilizatório que se encontra em andamento.
Eis o presente
A flores continuam lá fora, lindas, coloridas, inspiradoras. E chega a hora de entregar o presente a você, leitor: saiba que apesar da velocidade imperativa do nosso cérebro ele pode aprender com você a ter reações favoráveis, isto é, você pode determinar o caminho de sua própria vida, ao saber que isso é possível, ser dono de suas atitudes. Saber que isso é possível não muda toda a história e não lhe abre uma luz de esperança? Acredite, é possível mesmo.
Ouça essa pequena história ilustrativa. No interior da China, num vale plantado de arroz, um ancião já arqueado pela idade avançada, todo dia cumpria um ritual exemplar. Ele despertava, se levantava, punha a chaleira com água para ferver e fazer seu chá. Esfregava as mãos para combater o frio matinal, enquanto esperava. Depois, lentamente, sorvia o chá. Dava uma esticada nos ossos, como podia, e, em seguida, abria a porta e encontrava a luz do Sol para o qual olhava e invariavelmente dizia para si mesmo: “Bem, hoje é um novo dia. Devo fazer uma escolha. Ah!, já sei…vou ser feliz.” E assim seguia para uma jornada de trabalho.
Por que esse presente e não outro? Simples.
Se a previsão da Organização Mundial de Saúde – OMS estiver correta – e esperamos que não, que podemos reverter essa tendência – no ano 2020 morrerão mais pessoas vítimas dos efeitos da depressão do que de doenças cardíacas e outros males na linha de frente desse ranking mundial. É incrível pensar que a melancolia e a tristeza possam destruir tantas vidas. O que está errado conosco?
No livro “O demônio do meio-dia” [Companhia das Letras], considerado uma das mais importantes obras de estudo da depressão, seu autor, Andrew Solomon, depois de cinco anos de pesquisas diretas em várias partes do mundo e estudo de casos conclui: “Sob vários nomes e disfarces, a depressão é e sempre foi onipresente por motivos bioquímicos e sociais”.
Pare agora e releia o que dissemos acima sobre o funcionamento do cérebro: numa sopa agitada por alterações bioquímicas importantes, o que acontece lá dentro de nossa cabeça se reflete como pensamento, sentimento, sensação, etc. Inclua-se nesse contexto as nossas dificuldades relacionais dentro de casa, na escola, no trabalho, no trânsito e assim por diante. Dá para perceber em que situação nos encontramos.
Nos Estados Unidos, a depressão é considerada a principal causa de incapacitação. No mundo, ela responde pela maior parte do conjunto de doenças. “A depressão ceifa mais do que a guerra, o câncer e a Aids juntos. Outras doenças, do alcoolismo aos males do coração, mascaram a depressão quando esta é a causa. Se levarmos isso em consideração, a depressão pode ser a maior assassina do mundo”, alerta o autor.
A boa notícia, pelo menos para a maioria absoluta dos casos, é que a depressão, se não for totalmente curada, e isso acontece, pode perfeitamente ser controlada por tratamento que combinam o uso de medicamentos específicos e psicoterapia [de preferências os dois juntos].
O importante é reconhecê-la [cuidado que ela se oculta sob vários disfarces para você mesmo e para as pessoas próximas, embora sintam que há algo não funcionando bem, não conseguem nomear a causa] e tratá-la.
Para a nossa surpresa, ficamos sabendo que crianças com três meses de vida já podem sofrer depressão devido às influências recebidas das pessoas que cuidam dela ou mesmo de uma herança genética.
Já nos alongamos além nosso projeto inicial e, de alguma forma, precisamos encerrar e gostaríamos de lembrar que todos nós temos uma criança interior que pede para ser ouvida, não importa a idade que tenhamos. Por isso, iniciemos, como primeiro ato para estimular nossa busca de autogestão, pensando em nossa origem:
“Crianças privadas do amor no início de suas vidas e de encorajamento em relação ao desenvolvimento cognitivo [da mente pensante] são em geral incapacitadas permanentemente.”
Eis, enfim, o presente definitivo: descubra quem você é verdadeiramente e comece uma vida nova a partir dessa perspectiva, sendo você mesmo. Feliz Ano-Novo!
Carlos Rossini é
editor de vitrine online