IBIÚNA VIVE EXPECTATIVA POLÍTICA NA BASE DO “LE SILENCE EST D’OR”

O provérbio francês “La parole est d’argent, mais le silence est d’or” [A palavra é de prata, mas o silêncio é de ouro] combina como mão e luva para uma análise do momento político vivido em Ibiúna. Vamos entender o clima em que esse pensamento terá sido criado na terra de Marcel Proust. Em primeiro lugar, havia uma dificuldade em curso; em segundo, era preciso decidir um comportamento e o silêncio foi escolhido como uma forma de sabedoria.

A prata tem menor valor do que o ouro nos jogos da vida política. Falar é perigoso porque revela o que está dentro do espírito do falante, como suas inseguranças,   medos, fragilidades e, até mesmo, as peculiaridades de  sua astúcia.

Hoje (6), conversando com diversas pessoas era possível perceber que há um clima de expectativa no ar no cenário político-administrativo da cidade. A tendência observada indica isto: algo está por acontecer, talvez nos próximos dias ou pouco mais à frente. E exatamente por haver uma atitude política calcada no silêncio, basta que um pavio seja aceso para que um factoide se apresente e caminhe pela cidade. Politicamente, a população de Ibiúna é cautelosa e isso deve ter sido aprendido ao longo do tempo, sobretudo por se tratar (ainda) de uma cidade pequena do interior e as pessoas se conhecerem ou terem ligações de parentesco. A regra é evitar complicação e possíveis retaliações.

Mas existe um burburinho latente, diferente de uma notícia em que o fato pode ser apresentado de modo claro, objetivo e preciso, o que lembra um outro provérbio, brasileiro, “onde há fumaça, há fogo”, mas isso depende do que o tempo irá dizer.Uma pequena e sintomática frase é repetida: “É, já ouvi falar.” Isso traz à memória uma obra do prêmio Nobel, Gabriel Garcia Marquez, chamada Crônica de uma morte anunciada, em que, numa cidade litorânea da Colômbia, toda a população sabia que seria cometido um crime no fim do dia, mas ninguém se atreveu a tomar qualquer atitude para impedi-lo, como acontece em certas novelas da TV Globo, em que a fantasia é colorida em tons fortes para prender a atenção dos telespectadores.

Já que entramos no campo da ficção, parece oportuna a lembrança de uma sabedoria de origem espanhola, já traduzida: “Não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem”.  Veja, leitor, o desafio que nos impomos de fazer um combinado de metáforas para tentar dar conta de um esboço de fato que pode ou não estar se compondo. Nosso atrevimento vai ao ponto de considerar que os pensamentos dos cidadãos são relevantes esforços para entender o que, em princípio, se esconde de seu olhar e dos seus ouvidos, de propósito.

Recentemente, vitrine online lançou, em seu facebook, a ideia de uma campanha com o objetivo de se utilizar o riso como manifestação política pacífica diante do que é verificável, mas não se modifica e tampouco melhora. É rir para tudo para não ser digerido por coisas que mais lembram o teatro do absurdo do que acontecimentos que deveriam ser pautados por um mínimo de lógica e coerência, como um plano para escalar o Everest ou pilotar um avião até seu destino, com o melhor conforto possível para seus passageiros.

______________

Carlos Rossini é editor

de vitrine online

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.