CONTO DE FADAS – “O REI ESTÁ NU!”, COMEÇARAM A GRITAR HOMENS E MULHERES

Na primeira metade do século XIX, o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen escreveu um conto que por valor simbólico ficou conhecido no mundo todo. Então… Era uma vez um bandido espertalhão e um rei muito vaidoso.

O falsário se apresentou dizendo-se alfaiate que viera de terras distantes e ao perceber uma fraqueza do monarca disse que poderia fazer uma roupa de extraordinária beleza, cara e bonita, e que somente as pessoas mais inteligentes e astutas poderiam vê-la. O rei já se imaginou todo formoso diante da corte e na hora propôs que o “alfaiate” executasse essa preciosidade que adornaria seu corpo.

O bandido espertalhão [em algumas versões conta-se que eram dois] logo recebeu materiais exóticos e raros, exigidos para a confecção das roupas, incluindo fios e botões de ouro, seda, e um tear. Mas, havia um porém.

As roupas somente seriam vistas por pessoas de indiscutível inteligência, não por pessoas comuns. E para se manterem dentro dessa qualificação todos os nobres que iam ver a fabricação elogiavam o trabalho de um prodígio do corte e costura, mas na realidade nada existia de fato. Ninguém queria ser tachado de estúpido, pois pegaria mal dentro do palácio.

Um dia, cansado de esperar, o rei convidou seus ministros para ver as obras de arte feitas para vestir. Quando o “alfaiate” mostrou a mesa de trabalho vazia, o rei exclamou: Que lindas roupas! Que trabalho magnífico!”, embora não visse nada além de uma simples mesa, pois dizer que nada via seria admitir na frente de seus súditos que não tinha a capacidade necessária para ser rei. Os nobres ao redor soltaram falsos suspiros de admiração pelo trabalho do bandido.  Nenhum deles, por certo, querendo passar por medíocre ou incapaz. O bandido garantiu que as roupas logo estariam completas e o rei resolveu marcar uma grande parada na cidade para que ele exibisse suas novas vestes reais.

Ao desfilar, porém, o povo estranhou algo, mas não se encorajou a esboçar nenhuma reação. Um menino, porém, [em outras versões dizem que era uma menina] gritou:

“Coitado do rei, está nu! O rei está nu!”

Os homens e mulheres conhecendo o menino e sabendo que ele não era nem tolo nem falso, começou a murmurar e, em pouco tempo, a bradar:

“O rei está nu!”, “O rei está nu!”

O desfile deveria continuar de qualquer forma, com as pagens segurando a cauda invisível da capa do rei. Após terminado o cortejo, o rei retornou ao castelo de onde, comentou-se na época, não queria mais sair. Grande fora o vexame! Mas, pouco tempo depois, os súditos já haviam esquecido o escândalo e os funcionários do reino tocavam sua rotina, como se nada tivesse ocorrido.

Todos ocupavam seus cargos monótonos distribuídos a algumas poucas famílias e amigos privilegiados. Da mesma forma continuavam sonegando impostos, desviando verbas, indicando que tudo havia voltado ao normal.

O falso tecelão desapareceu, levando consigo muita grana, fios de seda, ouro. Meses depois, um viajante chegou à terra do rei vaidoso e, sabendo da história, informou que o mesmo golpe havia sido aplicado em outro pequeno reino. Dizem que ali se andava de nariz empinado e que eram grandes as hipocrisias.

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.