AJUSTE FISCAL – ARROCHO PREPARADO PELO GOVERNO FEDERAL PROVOCARÁ MUITAS FERIDAS SOCIAIS

O conjunto de medidas que o Governo Federal preparou para realizar o chamado ajuste fiscal não deixará pedra sobre pedra. Todos deverão sofrer talvez o maior arrocho praticado pelo governo petista aboletado no Palácio do Planalto há mais de doze anos. Em termos simples, o governo vai transferir o máximo possível do dinheiro de mãos privadas para os cofres públicos.

É previsível, portanto, desde já, que haverá desemprego em uma proporção inimaginável no momento, redução do poder aquisitivo dos consumidores, aumento de inadimplências, aceleração do endividamento das famílias, majoração dos preços dos produtos, rebaixamento da qualidade de vida. Enfim, se conseguir, o governo poderá se aproximar de um equilíbrio em suas contas, mas a um custo de generalizado sofrimento social.

Não se pode imaginar que Joaquim Levy, aparentemente rígido em sua visão clássica da economia, seja um mal intencionado  ou um sádico. Está agindo de acordo com seus conhecimentos querendo pôr a casa em ordem, mas, de alguma forma, serve, talvez mesmo sem saber, para legitimar um axioma atribuindo ao escritor russo Fiodor Dostoiévski [1821-1881]: “O poder existe  somente quando faz sofrer.” E é, em termos práticos, o que vai acontecer com muitos milhões de brasileiros, até aqueles que recebem Bolsa Família porque o aperto vem como um tsunami, fruto não de deslocamentos de placas tectônicas, mas da equação conceitual construída com foco na contabilidade e não na humanidade.

Atribui-se a Maria Antonieta, rainha consorte da França e Navarra, que regeu de 1774 a 1792, uma frase que agora naturalmente se apresenta à memória. Diante do povo que clamava por “pão,pão” e reclamava da falta de cereais, da escassez e do pão de má qualidade, ela teria dito:”Se o povo não tem pão, que coma brioches”.  Várias ilações podem ser tiradas dessa frase, mas uma delas exatamente a falta de sensibilidade e o distanciamento entre o poder e o povo, que  é tratado com melosidade nas campanhas eleitorais e depois reduzido  e posto em “seu devido lugar”.

O fato é que as palavras dadas pelos políticos voam e desaparecem como as nuvens e o que valem são os fatos concretos que igualmente devem mudar de acordo com as circunstâncias. O que um dia foi sorrisos[mesmo de plástico] agora se torna um rosnar que determina distanciamento, estranheza  e subjugação. Mas exatamente essa glacialidade relacional imposta pelo poder surge como provocação que produz uma inevitável reação popular, igualmente imprevisível nos próximos meses. Cá entre nós, o infame ato de destruir coisas está se tornando um hábito cada vez mais comum e, como se pode imaginar, não faltam incendiários de aluguel, embora a população tenha todo o direito de exigir respeito aos seus direitos por parte dos governantes de plantão. [C.R.]

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.