EDITORIAL – LEI DA MORDAÇA REPERCUTE NAS REDES SOCIAIS E CAUSA EMBARAÇOS PARA OS AUTORES DO COMUNICADO

Se bebessem a água benta da humildade, os signatários [que assinaram] do comunicado que criou “uma lei da mordaça”, proibindo os servidores e comissionados da prefeitura de Ibiúna a darem entrevista aos veículos da imprensa – sem prévia autorização do secretário de Governo – veriam que a nota de esclarecimento que postaram na front page do portal da prefeitura tenta justificar o injustificável.

O pecado foi cometido, está causando grande repercussão na cidade e, infelizmente, coincide com as comemorações do 158º aniversário do município, levando-o a um retrocesso de pelo menos trinta anos no cenário da história do Brasil, além de violar as garantias constitucionais da liberdade de expressão.

Falam e escrevem cobras e lagartos de Dilma Rousseff e a presidente está cortando um doze, que aparece até mesmo em sua fisionomia, com tantas críticas e provocações, mas sua postura é democrática e de respeito à livre expressão dos cidadãos dentro e fora do seu governo. Quando o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fez um comentário inconveniente, Dilma lhe deu um puxão de orelha e ele se enquadrou rapidamente.

Embora não tenha aposto sua assinatura no comunicado que estabeleceu a censura na administração municipal, o prefeito Fábio Bello tinha conhecimento do ato cometido por seus subordinados e já terá incluído essa atitude em sua biografia política.

O comunicado, na prática, estabeleceu indiretamente a censura à imprensa que se vê constrangida e cerceada em sua atuação, como noticiamos ontem em nossa front page, quando fomos observar como andava o atendimento no hospital municipal.

Mas, antes já havia uma “censura branca” em vigor. Vitrine online enviou para a assessoria de Imprensa da prefeitura cerca de dez questionários e nenhum deles foi respondido. Para citar um caso específico, quando o governo Fábio Bello completou cinco meses de governo, pedimos para que descrevesse suas realizações nesse período. O pedido foi entregue ao secretário de Governo, Rafael de Cassia Cerqueira.

É incrível que, em pleno século 21 – diante da mais espetacular revolução tecnológica que permite o funcionamento da maior rede de comunicação instantânea, em que as relações entre público e privado se fundem cada vez mais – autoridades públicas de Ibiúna cometam um erro tão primário.

A falha de visão implica até mesmo uma questão de natureza prática: os efeitos da medida serão pífios porque é improvável a realização da vontade de esconder os fatos e a imprensa, como aliás acontece em todo o universo, arranjará jeitos e maneiras de descobrir o que procuram velar por meio da imposição de postura draconiana. Funcionários e prestadores de serviços, que não recebem pagamentos, se sentem desrespeitados ou injustiçados, são fontes de informações naturais, como tem acontecido com os professores e médicos que atendem no Hospital Municipal. Se não fosse assim, como o comunicado teria vazado para a sociedade?

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.