OPINIÃO – IBIÚNA, ALÉM DO BEM E DO MAL

Em 1973, formei-me especialista em marketing pela Fundação Brasileira de Marketing, que funcionava na alameda Santos, uma rua paralela da avenida Paulista. Faz trinta e dois anos. Às vezes, quando as circunstâncias são oportunas, lembro-me do que disse um professor de psicologia do consumidor: “Não importa saber se o mundo é bom ou mau, nós temos que tirar o melhor proveito dele.”

Na hora pensei o quanto essa proposição era uma imoralidade explícita. Tinha, de alguma forma, algo em comum com o que dissera o famoso jogador Gerson, numa propaganda de cigarros, em que dizia: “O negócio é levar vantagem em tudo, certo?” O canhotinha de ouro foi muitas vezes criticado por isso. Uma frase essencialmente imoral, não por culpa do jogador mas do apelo publicitário e, hoje, evoluímos um pouco, a propaganda de cigarro está proibida na grande mídia eletrônica.

Agora o tema é Ibiúna, esta cidade que aparenta não se dar a devida conta de suas dimensões geográficas, de suas potencialidades turísticas, e que vem capengando nas mãos de políticos que parecem situar-se além do bem e do mal. Tradução livre: eles, de alguma forma, se inscrevem entre as duas declarações, passando por cima de valores morais e, assim, de toda população.

Esses últimos anos, em virtude das tribulações provocadas pelas sucessivas trocas de prefeitos – e é bom lembrar que há uma expectativa no ar de que o TSE em algum momento venha a se pronunciar sobre um Recurso Especial que, se ocorrer, pode (ou não) provocar alguma mudança – parece que tudo é pecado venial e pretexto para nos distanciarmos da paisagem moral. Ou nos distrairmos com o que temos e que é insatisfatório.

O lixo que se acumula gritantemente pelas estradas, os geceemes insatisfeitos por não receberem horas extras, as queixas e irregularidades no transporte de pacientes de hemodiálise, oncologia e outras enfermidades crônicas, [deverá ser objeto de investigação por uma comissão de vereadores], os problemas sine die no sistema de saúde público, o famigerado transporte público ineficiente, a ciclovia que poderá ser transformada em enredo de escola de samba do próximo carnaval em 2016 [quando haverá eleições municipais], a rodoviária que francamente é protótipo do anticartão de visitas de uma cidade turística, extinção de escolas, a falta de material de higiene nas escolas, etc.

Ora, direis, estão asfaltando diversas estradas e até plantaram flores no canteiro central da avenida São Sebastião, o que provocou um notável acúmulo de manifestações no facebook [com pessoas prós e contras  a atual administração, ou seja elogios e críticas] implantaram duas ou três lombadas defronte do residencial Minha Casa, Minha Vida. Ok? Então temos coisas ruins e coisas boas.

Ah!, não poderíamos esquecer da grande contribuição dada pela prefeitura ao processo de transparência em relação aos fatos públicos, como reza lei federal, com a criação de uma lei da mordaça no dia 9 de março, proibindo, e mesmo ameaçando os desobedientes, que os servidores públicos deem entrevista à imprensa sem autorização prévia do secretário de Governo.

O conjunto da obra em andamento – e sempre aplaudiremos as boas realizações para a cidade [como o fizemos de fato, em relação à reforma na ponte que liga o centro da cidade ao bairro da Cachoeira e às cidades de Mairinque e Sorocaba] – deixa muito a desejar e os ouvidos do repórter que, por dever do ofício, é um escutador de pessoas, fica imaginando um quadro de Picasso, como sugestiva imagem de como se lhe apresenta a cidade de Ibiúna nesses tempos correntes. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.