EXCLUSIVO – INACABADA, CICLOVIA DE IBIÚNA CONSUMIU R$ 3,5 MILHÕES, É MALFEITA E PERIGOSA

Quatro anos depois de iniciada, R$ 3,5 milhões destinados, a decantada ciclovia, que seria o cartão-postal da Estância Turística de Ibiúna, se encontra hoje em ruínas. Inacabada e malfeita, oferece sérios riscos de ferimento aos seus usuários, especialmente às crianças, conforme declarações colhidas por vitrine online no domingo (7). O repórter da revista fez o trajeto a pé e o que viu e fotografou comprovam a veracidade do desabafo popular. Entre as diversas manifestações ouvidas mais do que um vez, a pergunta:  “Aonde foi parar o dinheiro da ciclovia?”

O projeto era encantador, um sonho mesmo. Numa extensão de 3.270 metros se estenderiam duas pistas paralelas, uma, em manta asfáltica, para ciclistas, outra, em concreto, para caminhada ou Cooper. Mas havia mais: revitalização estrutural e paisagística da avenida Antonio Falci [margeia o centro de Ibiúna], construção de banheiros públicos, salão para eventos/feiras, iluminação pública em todo o percurso da ciclovia, paisagismo. Nas áreas de praças e estacionamentos, com pisos intertravados, bancos, parques infantis e aparelhos para atividades físicas.

Uma obra sem fim

No dia 23 de fevereiro de 2010, a Câmara Municipal de Ibiúna aprovou um crédito suplementar no montante de R$ 1,98 milhão para que fosse iniciada e concluída a primeira etapa do projeto. Isso foi feito, de acordo com os parlamentares, porque a verba já havia sido aprovada e liberada pelo Departamento de Apoio e Desenvolvimento das Estâncias – Dade.

três

As obras tiveram inicio no governo Coiti Muramatsu em agosto de 2011, com movimentação de terra e aterramento que exigiu milhares de viagens de caminhões basculantes. Esse trabalho levou mais tempo do que se imaginava e não produziu nada muito além do que deixar uma base para o prosseguimento da obra. Em algum momento, percebeu-se que a obra havia paralisado. E o tempo passou, enquanto a população aguardava a realização de um sonho, ligado também à saúde pública, pois a obra visa proporcionar que a população faça exercícios, com conforto e segurança.

Os sinais de um projeto continuam ali, parados. Em maio de 2014, já no governo do professor Eduardo Anselmo, o então vice-prefeito e secretário de Esportes e Lazer, Adal Marcicano, anuncia que havia sido feito novo acordo com o Dade e que as obras seriam retomadas. A empresa responsável, que ganhou a concorrência, continuava a mesma: Tecla – Construções Ltda. Na ocasião, o secretário disse que o projeto [de sua autoria, ainda por ocasião do breve governo do coronel Darcy Pereira, em 2009], “era um ponto de honra, pois proporcionaria melhor qualidade de vida à população”.

Então foi liberada uma verba de R$ 1,6 milhão para a conclusão da segunda etapa do projeto, que deveria ser concluído em maio de 2015. No início de setembro, Fábio Bello retoma o posto de prefeito, por decisão judicial, no lugar do professor Eduardo Anselmo. E as obras da ciclovia, como andavam? Esquecidas, mais uma vez.

quatro

No dia 20 de outubro de 2014, vitrine online publicou matéria dizendo que as obras da ciclovia continuavam paralisadas, apontando que a empresa não estava recebendo o pagamento [seu representante confirmou esse fato] e, assim, a empreiteira subcontratada não estava pagando os operários que, por isso, deixaram de trabalhar.

No dia 17 de novembro do mesmo ano, portanto poucos dias após o noticiário, já  no governo de Fábio Bello, a prefeitura, por meio de notas distribuídas pelo facebook, e portanto de modo extraoficial, anunciava que as obras da ciclovia tinham sido retomadas, que “estavam a todo vapor”. A notícia vinha acompanhada de uma fotografia que mostrava um caminhão e operários lidando na ciclovia. Mas, não demorou e, por falta de pagamento, as obras voltaram a parar e estão paralisadas até o presente momento.

A realidade crua

cincoOs entrevistados por vitrine online no domingo disseram de pronto “está tudo abandonado por aqui”. A tradução do inacabado se faz ver por toda a caminhada que fizemos: buracos, sujeira, amontoados de tijolos, areia e pedra, o início de uma estrutura que não se sabe que destino teria na altura da rotatória do Posto Ipiranga, uma ponte de ferro distante do local previsto para ser instalada [onde passa um riacho], calhas soltas ou simplesmente jogadas, galerias abertas, buracos, aspereza, ripas utilizadas para fazer o piso de concreto saltadas, grandes extensões em chão bruto tomado pelo mato ou de pedras soltas, falta de guias em muitos trechos, manta asfáltica já com rachaduras e deformação, piso extremamente irregular e um sem fim de outros problemas que os usuários conhecem de perto e os deixam profundamente descontentes com as autoridades municipais [isso foi manifestado de diversas maneiras].

perigoUm capítulo à parte, que deve merecer atenção imediata da prefeitura é instalar uma defensa ao longo da pista [mesmo no estado de ruína em que se encontra], porque as pessoas correm sérios riscos de serem atropeladas por carros que passam pela avenida Antonio Falci. Já houve pelo menos um caso desse e, por um triz, uma mulher não foi colhida por um carro que saiu da pista na curva da Bica e passou bem próximo a ela, caindo no barranco ali existente. Há poucos dias um caminhão, carregado de engradados de verduras tombou ao lado da pista, lançando dezenas de caixas sobre as duas pistas. Por sorte, ninguém foi atingido.

 

O que disseram

Entre os diversos usuários entrevistados, vitrine online faz alguns destaques.

“A ciclovia está um horror! Para crianças é assassina”, disse a advogada Maria Luiza Soto, que caminha por ali duas vezes por semana. Magali Francisca Pontes de Camargo, também advogada, caminha pela pista duas ou três vezes por semana e se sente “muito insegura”. À noite “nem pensar”, acrescenta para reclamar da escuridão que toma conta de todo o trecho margeado pelo matagal. Marenilde Boaventura de Moraes Verbel, aposentada do trabalho forense, se exercita ali diariamente e está inconformada com o que vê, um desrespeito “com o contribuinte e o munícipe”.

tres mulheresAs três, de modos diferentes, disseram que parte dos recursos para a ciclovia pode ter tido outros destinos. Aliás, essa desconfiança se mostrou generalizada entre os entrevistados de modo geral. Uma delas disse que “tem gente pegando os tijolos amontoados ou jogados ao longo da pista para fazer churrasqueiras”.

NoelO ciclista Noel Pires da Silva chamou a atenção para os perigos reais para quem está usando a ciclovia. Há [já aconteceram de fato] torsões, tropeções, entorses e até atropelamento de pedestres porque as bicicletas em vários trechos não têm alternativa senão usar a única faixa disponível. “Já deveriam ter terminado essa obra”, comentou Silva.

vanessaVanessa Brigante, competidora de kickboxing, acha o lugar completamente inadequado para preparação para as competições, pois se encontra muito irregular e precário. “Aqui há risco de todo tipo de lesão. É muito inseguro.”

Localização

A ciclovia ocupa uma extensão de 3.270 metros lineares, contornando a cidade. Vai das proximidades da rotatória da entrada da cidade, para quem chega de São Paulo, na altura do Posto de Informações Turística/Samu, até a rotatória de entrada para a Vila Lima ou para retomar a rodovia Bunjiro Nakao em direção ao município de Piedade. Dessa perspectiva, tem sentido Leste-Oeste.

sete

nossa

tropeção

 

lixo

putz

 

estrutura

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.