CARLOS ROSSINI ESCREVE – QUAL É A DIFERENÇA ENTRE POLÍTICA E POLITICAGEM?

carlos rossiniQuem os ibiunenses vão eleger no próximo ano para o cargo de prefeito e vereadores, a fim de que a cidade consiga ser melhor do que tem sido, como é desejo íntimo da população: políticos ou politiqueiros? Para simplificar, façamos um resumo: político é um cara de ideias, consciente de seu papel, responsável – em seus pensamentos e atitudes perante a coletividade – capaz de organizar, ter princípios éticos e morais e que age pelo bem comum.

Politiqueiro é o ator da politicagem e isso não se confunde com política. Aquele cujo objetivo não é o da coletividade, mas sim atender aos interesses pessoais ou trocar favores particulares. Em suma, é o “político” – segundo se lê nos dicionários – ordinário, mesquinho e interesseiro. A inserção das aspas na palavra político parte do princípio que esses atores sociais na verdade não são políticos e sim uma súcia, ou seja, indivíduos de má índole. Politicagem “é a arte de enganar”.

A política no Ocidente surgiu na antiga Grécia como base de sustentação das pólis, as cidades-estados, como instrumento de para dar forma ao governo e ao sistema de administração, muito tempo depois de as explicações deixarem de ter a mitologia como o modelo para explicar a realidade e a razão ser a referência primordial para tratar dos fatos objetivos e de natureza prática.

Desde então, o mundo passou a girar em torno do debate das ideias e de projetos, ou seja, de ideologias que definiam posições políticas e embates de poder baseados na arte da persuasão, ou na retórica, como a história observa. Ainda que na prática houvesse injustiças, sobretudo na consideração das mulheres e dos escravos, tratados como subcategorias sociais, a política teve desde os seus primórdios um papel claramente definido: arte ou ciência de governar, de organizar, de administrar nações, estados, municípios e, para ser bem simples, também uma casa. A palavra economia significa ‘o governo de uma casa’.

Na tradição política brasileira carregada de vícios, chamar alguém de político virou uma questão pejorativa, devido ao fato de se relacionarem a um contínuo espetáculo de corrupção, resultado e causa do que estamos considerando aqui politicagem. É por isso também que o Brasil real vive estes momentos de clara falta de rumo e de credibilidade do governo federal, que não consegue ocultar os pecados cometidos, em alguns casos até com desfaçatez no uso da mentira perante toda a nação.

Então, como estamos cada vez mais perto das eleições municipais, precisamos fazer um esforço para distinguir a diferença entre política e politicagem, entre politiqueiros e políticos. Mesmo porque nas eleições municipais a baixaria da politicagem se intensifica. Em vez de propostas e ideias de governar e legislar claras, objetivas e responsáveis, há toda sorte de ataques pessoais, muitas vezes sem fundamento algum; numa palavra, jogo sujo, politiquice.

É importante é que surjam pessoas [candidatos] conscientes de que devem trabalhar e se dedicar ao bem comum – ainda que a sociedade real também apresente muitos problemas de natureza cultural, de hábitos teimosos, de comportamentos às vezes pouco civilizados – e não querer acumular riqueza pessoal à custa do bolso do povo, uma das características marcantes dos politiqueiros.

É preciso dar um salto sobre esse desafio que é parte da realidade da politicagem que se nutre de egoísmo, mesquinharia e do desejo de levar vantagens em todas as transações que implicam dinheiro e outras formas de benesses e dos poderes que, como tudo, terão seu próprio fim, antes de serem substituídos por novos personagens, numa roda viva que ninguém é capaz de deter.

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Carlos Rossini é editor de vitrine online e apresentador do programa “O repórter da cidade”, apresentado às quartas-feiras, na TV Ibiúna.

 

 

 

 

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.