EXCLUSIVO – POR QUE A CÂMARA DE IBIÚNA RESOLVEU APROVAR A CPI DA MERENDA ESCOLAR

merenda hojeA criança é aluna na rede municipal de ensino em Ibiúna. Agora é a hora da merenda. No prato vêm arroz, feijão, omelete e repolho. A empresa SP Alimentos que vinha fornecendo a merenda espera receber pela alimentação servida na primeira quinzena de julho, nos meses de agosto e setembro e na primeira quinzena de outubro R$ 1.397.000,00, pelos serviços prestados, segundo revelou à vitrine online o vereador Beto Arrais (PPS).

Pode não parecer, mas foi exatamente essa contradição – o cotejo entre o valor pago e a qualidade e a quantidade dos alimentos e a falta de logística na distribuição fazendo com que em algumas escolas tivesse alimentos e outras não – o motivo pelo qual, e surpreendemente, a Câmara Municipal instalou ontem (27) uma CPI para apurar as irregularidades nesse setor.

No dia 8 de setembro, o vereador Carlinhos Marques (PSB) havia apresentado o requerimento com o mesmo objetivo – fazendo graves denúncias tanto na forma quanto na empresa contratada pela prefeitura de Ibiúna, integrante da “máfia da merenda”, cujo proprietário se encontra preso – a CPI não foi instalada por falta de quórum. Precisava de cinco assinaturas e só conseguira quatro.

O requerimento foi reapresentado e a CPI instalada [tem prazo de 120 dias para ser concluída] por sete votos: Carlinhos Marques (PSB), Beto Arrais (PPS), Rozi Soares Machado (PV), Pedro Luiz Teixeira (Pros), Jair Marmelo (PCdoB), Abel Rodrigues de Camargo (Solidariedade) e Luiz Carlos de Carvalho (PMDB).

Não assinaram: Aline Borges (DEM), Devanir Candido de Andrade (PMDB), Rodrigo de Lima (PCdoB), Israel de Castro (PSDB), Odir Vieira Bastos (PSC), Paulo Cesar Dias (PR), Paulo Kenji Sasaki (PTB), Leôncio Ribeiro Costa (PDT).

“Muito grave”

A reviravolta nesse processo ocorreu por causa de um trabalho de fiscalização realizado pelos vereadores Beto Arrais e Rozi Soares Machado em quatro escolas, da análise das planilhas e do cardápio oferecido. “O que apuramos é muito grave e é gritante o valor a ser pago em contraste com a qualidade, quantidade e logística da distribuição dos alimentos”, declarou Beto Arrais à vitrine online hoje pela manhã.

Ambos haviam enviado um requerimento pedindo informações ao prefeito Fábio Bello e até hoje pela manhã ainda aguardavam pelas respostas. Beto disse ter conversado com Rozi sobre a gravidade do fato e que votaria a favor da instalação da CPI, com o que também concordou Rozi e foram, em última análise, esses dois votos que fizeram a diferença. Eram necessários cinco votos favoráveis e foram obtidos dois a mais.

A comissão deverá ser presidida pelo vereador Carlinhos Marques, que fez a primeira assinatura e, na verdade, foi o autor do requerimento pedindo a CPI. Os outros dois membros deverão ser indicados pelo presidente da Câmara, Rodrigo de Lima, conforme o regimento interno.

Situação atual

A SP Alimentos já não fornece mais alimentos para a rede municipal de ensino. As aulas regulares terminarão no dia 30 de novembro. A prefeitura está adquirindo as mercadorias do Supermercados Ibiúna e Dia e gás do comércio local. Segundo Arrais, a distribuição ainda demonstra falhas, mas os produtos já são de melhor qualidade.

Ao observar o longo período em que haverá ponto facultativo na cidade de Ibiúna – começa nesta quarta-feira (28) e, por causa do feriado de Finados no dia 2, as aulas somente serão retomadas na terça-feira (3), houve quem comentasse se isso não terá ocorrido por falta ou para economizar merenda.

De qualquer forma, a CPI será uma desconfortável pedra no sapato do chefe do Executivo ibiunense, pois, virtualmente, poderão vir à tona constatações e descobertas indesejáveis.

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.