MORRE JOÃO CAPIM, UM CIDADÃO IBIUNENSE, EXEMPLO DE SIMPLICIDADE

joão capimMorreu ontem às 23 horas no Hospital Municipal de Ibiúna, vítima de um terceiro enfarte, um “Cidadão Ibiunense” [recebeu mesmo esse título honorífico da Câmara] bom e simples. João Pereira da Silva, o conhecidíssimo seo João Capim, aos 81 anos. Seu corpo foi sepultado hoje (27) à tarde no Cemitério da Figueira, depois que dezenas de amigos e parentes dele foram se despedir no velório municipal.

Há trinta e sete anos, sua filha deu à luz a um menino e João Capim, que já tinha três filhos homens e uma mulher, adotou o neto, José Sérgio Pereira da Silva, como filho, com o qual morava em uma casa no começo do bairro da Cachoeira. Pois foi esse filho-neto que o levou ao hospital na tarde de ontem. João Capim estava bem e, de repente, começou a sentir falta de ar, que não passava.

Em boa prosa com o neto, ele disse: “Vou viajar e não quero deixar você sozinho. Vou viajar e não volto mais.” Horas depois estava morto. Em maio do ano passado, ele havia sofrido um primeiro enfarte junto com um AVC [acidente vascular cerebral], em outubro do mesmo ano sofreria outro enfarte, mas superou com otimismo e retomou suas sagradas caminhadas pelas ruas centrais de Ibiúna e, principalmente, rumo ao plenário da Câmara Municipal que frequentou durantes décadas, quase sem faltar a nenhuma das sessões, exceto àquelas que se realizaram durante os períodos em que esteve em tratamento.

João Capim é o apelido pelo qual ficou conhecido porque depois que se mudou de Laranjal Paulista onde nascera para Ibiúna, onde viveu praticamente toda a sua vida, ele se tornou um fabricante de colchões de capim, num tempo em que nem se ouvia falar de colchões de mola ou de espuma.

Muito simples, talvez somente os mais sensíveis perceberam a grandiosidade dele como pessoa, como ser político, área em que atuou e ajudou a eleger algumas figuras no município. Seu modo elegante de se comportar o tornou uma figura simpática e respeitada. Ele tomava cuidado com as palavras.

Se for permitida uma licença poética a este escriba, tive a honra de ter sua amizade e conversávamos sempre que nos encontrávamos na Câmara Municipal e nas ruas, onde caminhava com sua indefectível bengala ou guarda-chuva, na praça, no supermercado. Ele falava baixinho e eu chegava bem perto dele para não perder nenhuma palavra. Ele várias vezes soprou no meu ouvido que me candidatasse para ajudar Ibiúna e que me ajudaria. Também me contava segredos políticos do passado e do presente e não andava nenhum pouco contente com as coisas da atualidade política.

Hoje quando vi seu rosto no caixão parecia dormir. Um dos seus antigos amigos disse-me: “É assim o rosto das pessoas boas, quando morrem.” Na verdade, seu rosto era de uma pele fina e delicadamente rosada, como o rosto do seu filho José, com o qual conversei, e que falava do mesmo jeito do pai, baixinho e calmamente.

Poucos talvez saibam que João Capim enviuvou quando nasceu seu filho caçula, há quarenta e oito anos. Sua mulher morreu durante o parto e ele teve que cuidar das cinco crianças da casa. Eles estavam lá hoje e ficou difícil controlar a emoção, mas, sem dúvida, havia um clima de paz e tranquilidade, impressões que João Capim sempre deixava no ar com quem falava. Obrigado, João Capim! (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.