159 ANOS – MARCO TRUVILHO REVELA EM POEMA UM AMOR ANTIGO POR IBIÚNA
AMOR ANTIGO
Usando o tom do abstrato
e as cenas esmaecidas
que o meu pendor saudosista
foi lá no ontem buscar
Tomei às mãos a caneta
e mesmo com letras gordas
tentei nesta tela escrita
a tua imagem pintar
Uma pequena princesa
sem maquiagem ou pintura
vestida com singeleza
retrato de uma cultura
A par do meigo sorriso
de um feitio donzel
um doce olhar de cabocla
– uma pombinha sem fel –
Desfilas descontraída
a pés descalços bem lento
pelas vielas da vida
de chão batido e poeirento
Ao terminar meu trabalho
voltei-me à comparação
daquela imagem de outrora
com esta de outra estação
Hoje mais velha e crescida
caminhas na ostentação
com ar de gente grã-fina
efeitos da mutação
Perdeste o meigo sorriso
e as vestes da singeleza
perdeste o olhar de cabocla
mas não perdeste a beleza
Prossegues sendo querida
mesmo no novo trajar
pois o amor que te tenho
não pôde o tempo mudar
E ao concluir estes versos
quase cometo a lacuna:
não declinar o teu nome
ó doce amada Ibiúna!