ENSAIO – DESCOBRIR QUEM SOMOS TALVEZ SEJA A MAIOR AVENTURA HUMANA

espaço

Em contato diário com a natureza, desde o momento em que desperto até que adormeço, percebi que na maior parte do tempo estou procurando por alguma coisa, que parece estar faltando. Vejo o Sol, o céu, azul e aberto ou carregado de nuvens, vejo as plantas e os animais em movimento, em suas variadas formas e tamanhos, alados ou terrenos. Faço parte desse cenário com o qual me identifico cada vez mais.

Se me virem conversando com as árvores e as cadelas integrantes da população de casa, acreditem estou certo de que me ouvem e me veem, mas de modo diferente, cada qual a seu modo. O processo de vida e morte ocorre de modo continuado: árvores perdem suas folhas, secam de pé, outras caem e, ao longo do tempo, desaparecem absorvidas pela terra; animais, como os homens morrem de morte natural ou são abatidos e servem de alimento para os outros, como fazemos com bois, vacas, galinhas, porcos, etc.

A respeito das árvores frutíferas já observei diretamente um fenômeno. Um pé de mexirica certo ano deu uma quantidade extraordinária de frutos, a maioria muito pequenos, o mesmo aconteceu com um limoeiro. Nos dois casos era a última vez. Uma despedida encantadora. Fiz uma reverência de gratidão, em silencio, para as duas.

Mas, se lanço um olhar mais ingênuo para tudo que está presente, vejo a dança das borboletas voando e pousando nas flores e os incríveis voos dos beija-flores e os insetos, minúsculos, alguns, indo de um lugar para outro. As saúvas, sem que você perceba como foi o começo, marcam trilhas no gramado, derrubando, cortando folhas em pedaços e carregando-os para dentro do formigueiro.

Danço e canto no jardim e acho isso uma experiência maravilhosa, sempre percebendo novas possibilidades de exercitar o corpo, que provoca uma clara sensação de bem-estar. Pego um bambu e o movimento em várias direções simétricas, me imagino uma espécie de samurai em combates imaginários com seres invisíveis, talvez como fazia Dom Quixote em terras espanholas.

Mas, não importa o que esteja fazendo para brincar e me distrair, sinto estar faltando alguma coisa no palco, como um objeto que deveria compor o cenário mas ali não está. Já me disseram que os homens, sem saber, buscam por Deus o tempo todo, por se sentir em incompletos e, por isso mesmo, sentirem um difuso medo da vida que flui como um rio que tem seu próprio ritmo, a despeito das ilusões que entorpecem a maneira como nos percebemos no mundo.

Houve um homem notável cujos maiores desejos eram conhecer a si mesmo e entender o significado da vida. Conhece-te a ti mesmo, era o que estava escrito no portal do oráculo de Delfos, na Grécia. E nessa toada, podemos ficar mais perto de saber o que, afinal, estamos procurando e nos dizem que, de um jeito ou de outro, tentamos buscar uma resposta para a pergunta: quem eu sou?

Muitos passam pela existência sem jamais cogitar essa questão, mas talvez seja verdade o que nos dizem que antes de obtermos uma resposta, não teremos de fato vivido. Ainda que estejamos diante de um enigma, porque o mistério se define por ser desconhecido, talvez a maior aventura humana seja mesmo estarmos a caminho de descobrir quem somos, por uma força de atração invisível e magnética. (L.P.)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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