SÃO ROQUE – UMA CENA TRISTE E COMOVENTE EM PLENO CARNAVAL
Já não bastam a vergonhosa atuação dos chamados poderes constituídos da República – Executivo, Legislativo e Judiciário – blindados pelas leis que lhes conferem poder que usam como querem e abusivamente e os catorze milhões de desempregados pelo Brasil afora e a miséria generalizada que grassa pelo país.
Parece mesmo que desgraça pouca é bobagem e então aqui perto, na cidade de São Roque, certamente cumprindo a legislação municipal, funcionários públicos, auxiliados pela força de elementos da Guarda Civil, vão à beira da estrada onde um modesto casal, procurando fazer alguns trocados para sobreviver, e apreendem as mercadorias que expõem numa armação de madeira: caixas de uvas e de outras frutas.
Impiedosos, vão removendo as caixas e as colocando dentro do porta-malas de um carro. O casal não reage e tampouco impede a ação dos servidores municipais. A mulher pergunta para onde vão levar a mercadoria e se deve ir à Delegacia de Polícia. Fica sabendo que será recolhida na prefeitura. Assim, perdem seu pequeno patrimônio e ficam tristes na beira da estrada.
Entende-se que o comércio deva estar submetido a legislação, sobretudo no que diz respeito a higiene e à saúde pública, assim como em relação a pagamentos de tributos, mas por que não há o mínimo de bom-senso para entender que, no caso relatado, que tipo de problema pode existir em umas caixas de uvas e alguns abacaxis?
Que o prefeito Cláudio Góes e outros prefeitos da região reflitam sobre esse fato sob o ponto de vista de uma realidade vivida em todo o Brasil neste momento. Se não podem gerar empregos e tampouco acolher famílias que se encontram em desespero, que sejam, ao menos, sensíveis aos termos da própria realidade.
Aqui em Ibiúna, Andressa D.C., escreve, em plenos festejos do Carnaval, com uma simplicidade e ingenuidades comoventes: “Como está difícil viver nesta cidade. Você procura por trabalho, entrega um currículo para todo lado, anda debaixo do sol para tentar uma vaga e nem sequer uma entrevista consegue aqui, e por quê? Porque não tem experiência. Como ter experiência se não se tem oportunidade? Difícil isso!”
Esse drama está sendo vivido por milhões de conterrâneos e por uma geração inteira da juventude brasileira que não encontra trabalho no mercado de trabalho reprimido pelos problemas políticos e econômicos que afetam um país desmoralizado pelos gigantescos escândalos que o situam entre os mais corruptos do mundo.
O custo de viver no Brasil – com as caras de pau das autoridades que se vestem com as melhores fatiotas, comem do bom e do melhor, longe da dor e do sofrimento do povo, e gozam a vida em oásis de prazeres que o dinheiro, em grande quantidade e conseguido na gosma das relações entre os poderes públicos e o que há de pior no meio empresarial selvagem, curtem viagens e as mordomias da corte, etc. – reduz sua população a expectadores de um espetáculo grotesco cada vez mais insuportável. (Carlos Rossini)