VIOLÊNCIA DECORRENTE DA ESTUPIDEZ HUMANA PÕE PODER PÚBLICO CONTRA A PAREDE

No primeiro trimestre deste ano, comparado a idêntico período de 2012, os latrocínios [roubos seguidos de morte] cresceram 24,7% no Estado de São Paulo. Mas as estatísticas preocupantes não ficam por aí: os homicídios dolosos (quando há intenção de matar) subiram de 4.194, em 2011, para 4.835; os roubos, de 235,5 mil, em 2011, para 237 mil, em 2012. Basta assistira meia-hora de um desses programas que cobrem o mundo cão da criminalidade para sentir repugnância com o barbarismo como a vida é tratada e como a estupidez tanatológica anda em alta. Nos lugares onde impera a miséria, a vida regrediu ao estágio mais baixo na escala dos valores humanos. A classe média tem medo de ir a um restaurante, porque pode ser vítima de arrastão; sair à noite é expor-se à bandidagem que, como jamais visto antes, matam-se pessoas sem o menor constrangimento, mesmo que as vítimas não esbocem sequer uma reação.

O Estado tem se mostrado incompetente para lidar com esse problema, que se tornou maior do que se poderia imaginar. Está fora de controle. Os criminosos, muitos deles, riem diante das câmeras crendo firmemente na impunidade. A polícia prende e logo o sujeito está solto. O Estado também é despreparado na sua capacidade de manter preso aqueles que a Justiça condenou. Também a Justiça está sob a lente de uma sociedade aturdida. Como um assassino confesso quase nunca fica preso o tempo prescrito pelos juízes? A impunidade ri da sociedade.

A novidade agora, no Estado de São Paulo, é que o governo está preparando um “pacote” contra a violência, que inclui até mesmo a diminuição do tempo de formação de PMs para que um grupo maior de policiais esteja na rua, lidando mais com as operações em si do que com as funções administrativas, fazendo mais blitze e bloqueios nas ruas.
O governo quer melhorar as condições investigativas, razão por que pretende capacitar mais dois mil peritos da Polícia Científica.

Uma outra iniciativa que merece destaque, porque fala direto com os ganhos dos policiais, será a criação de um bônus àqueles que cumprirem as metas de redução da violência.

A sociedade padece da própria dor de estar coletivamente doente. O sagrado lar, em muitas situações, se encontra sob a dramática psicopatologia de pais, amantes, companheiros que reduzem a condição da mulher ao mais abjeto significado de coisa. Mulheres, filhos e enteados são submetidos a condições de tortura e morte. E o que dizer de um bando de pivetes que entra no consultório de uma pobre dentista e a matam ateando fogo em seu corpo, porque em sua conta bancária havia apenas um saldo de trinta reais. Agora, mais do que nunca, é preciso ter dinheiro disponível para atender às demandas dos bandidos.

Podemos estar vivendo o fim da história, com uma vasta, abrangente e palmar incapacidade das organizações estatais, que deveriam assegurar o mínimo de segurança aos cidadãos, mas que, em vez disso, reagem espasmodicamente diante de uma situação constrangedora na qual se sobressai a imprensa que reflete e comove a população, ao retratar essa absurda onda de violência que assola o País. Vivemos um período de retorno à barbárie. (C.R.)

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.