A BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO BRASIL PEDE UM BASTA-JÁ DE TODA A SOCIEDADE

Nesses tempos absurdos em que homens, machistas psicopatas, agem com as mulheres como se elas fossem suas propriedades ou objetos sem valor algum, e as espancam, estupram e matam e as jogam no mato como uma lata de cerveja vazia, somos, a sociedade toda, de alguma forma, coniventes e causadores, mesmo sem perceber.

Todo santo dia, a televisão sensacionalista exibe um desses crimes bárbaros agora inscritos sob a rubrica de feminicídio. A morte da mulher, como objeto da fúria do homem, se tornou uma banalidade inaceitável. Ela parece ser condenada a sevícias, estrangulamentos, queimaduras, facadas, tiros, pelo simples “pecado” de ser mulher.

Isso é reflexo de uma sociedade que forneceu um modelo de homem incompatível com sua condição de bestas feras, cujas irracionalidade e estupidez revelam no fundo uma figura de “macho fraco” e, por isso mesmo, abusador da suposta inferioridade física da feminilidade. O estupro entra em cena como uma fera predadora que ataca nas savanas impiedosamente a presa notoriamente impossibilitada de enfrentá-la de igual para igual.

Esses crimes hediondos, embora aconteçam nas camadas mais frágeis economicamente, talvez por ser numericamente mais ampla, em que os machões obedecem covardemente os outros animais com força simbolicamente superior, não é privilégio, no entanto, de nenhuma classe social.

Esses filmes que se repetem diariamente nas telas da TV têm como protagonistas homens que não foram educados e se tornaram infantilmente incapazes de respeitar a figura da mulher, tanto a singular como a grande mãe reprodutora e protetora da vida…dos próprios homens.

O bicho homem sempre foi um animal perigoso, ambicioso, destrutivo. As origens primitivas do sistema capitalista foram conquistas belicosas, ataques a agrupamentos desprevenidos e posse de suas conquistas de territórios, incluindo as mulheres enviuvadas nas batalhas sangrentas que levavam como despojos da conquista, a pirataria nos mares em busca de tesouros, as traições e mortes entre os poderosos, a hipocrisia e o cinismo ocultos em todos os negócios de estado e entre os competidores privados.

Quando lembramos que os antropoides, incluindo povos bárbaros, como nos conta a história, foram canibais, imagine-se nossa origem em que, por mais que não queiramos acreditar, guardamos em nossa memória mais profunda, em nosso cérebro reptiliano, com a possibilidade real de não sermos apenas anjos, como gostaríamos, mas demônios disfarçados de gente, prontos para agir quando encontramos uma oportunidade.

Esses idiotas criminais podem estar escondidos e planejando um ataque, mesmo inconscientemente. O pai e casado que dá carona a uma adolescente que voltava de uma festa para casa, que a estupra e mata por estrangulamento, no Vale do Paraíba. O cara, no Paraná, que espanca e atira a mulher do prédio. O indivíduo que entra pela janela de uma casa num dia chuvoso, amarra e estupra uma adolescente num bairro de Ibiúna. Uma estudante, a caminho de uma festa numa cidade do sul de Minas Gerais, que pega uma inocente carona e que, posteriormente, é encontrada morta, após ser abusada. A relação, infelizmente, vai longe, num país desastrado em que morrem mais de 60 mil pessoas/ano por homicídio, o que esperar?

Esses homens com perfis criminais, como o motoboy que matou muitas jovens no Parque do Estado, seduzindo-as com falsas promessas de torná-las estrelas da TV, como puderam acreditar naquele crápula?

Em suma, como atestam alguns psiquiatras forenses, essas criaturas incuráveis são capazes de criar atrativos sedutores que típicos de uma mente perversa e doentia, como os animais quando se preparam para atacar suas vítimas de surpresa, desenvolvem ardis impressionantes, como permanecerem absolutamente imóveis, “oferecerem” iscas e os mais diversos engodos que atraem para a morte certa, impiedosa e sem culpa.

Como vivemos numa sociedade doente e sem perspectiva de melhoras a curto e médio prazos, ou seja, como a situação adversa para as mulheres deve continuar até não se sabe quando, é importante que sejam cada vez mais precavidas e não se deixem cair nas armadilhas que se armam em sua caminhada, pois o bicho homem pode aparecer quando menos se espera. Mulheres e homens de bem, uni-vos contra os ataques de psicopatas. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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