EDITORIAL – MANIFESTAÇÕES DE RUAS ECLODEM COMO UM BASTA CONTRA AS MISÉRIAS DO PAÍS
A miserabilidade que assola a maioria da população brasileira, os mensalões, a impunidade, a corrupção e a falta de vergonha dos políticos, a degradação de serviços públicos essenciais, como educação, saúde, transporte, segurança, a falta de emprego e a violência geral que está fora de controle em todo País, a falta de esperança e de futuro para juventude, as fábulas gastas para se criar uma estrutura espetacular para as copas de futebol, enquanto a população morre nas filas e nos corredores dos hospitais, por falta de medicamentos e de cuidados necessários, os arrastões, os assaltos, os crimes hediondos.
Esses são alguns dos ingredientes que, gradativamente, constituíram o despertar da consciência de brasileiros em pleno governo do que era uma promessa de ser um partido dos trabalhadores, o PT, que fracassou e sobrepôs uma máscara para esconder o improvável pudor de quem criou uma falsa expectativa de vida melhor para milhões de brasileiros que a propaganda oficial tenta encobrir, mas não consegue.
Por um desses milagres que se apresentam à história de repente e vêm à tona para mudar o status quo, os cidadãos, principalmente estudantes, foram brindados por um aliado vindo da tecnologia da informação, as redes sociais e democráticas, que possibilitam uma comunicação horizontal apta para organizar mobilizações.
A forma da eclosão e sua sustentação desses movimentos de rua constituem um problema aparentemente sem volta. Os governantes terão de pensar com inteligência para lidar com essa demanda que deverá se mostrar cada vez maior. O entretenimento proporcionado pelo futebol não é capaz de preencher o vazio da rotina diária. Há um denso clima de insatisfação e de indignação generalizado. A solidariedade aos participantes aumenta no meio da população em geral e cresce ainda mais quando a polícia reprime com violência e se mostra despreparada para lidar com a democracia, já que não consegue abandonar uma cultura de agressividade contra a sociedade civil que vem de longa data. E, além do mais, obedece naturalmente ordens de comando.
Ninguém quer baderna entre os estudantes conscientes e responsáveis, ninguém quer depredar o patrimônio público. Isso acontece por intromissão ou por parte de grupos inconsequentes. É da natureza social esse tipo de comportamento desviado em que certos indivíduos encontram uma oportunidade para se “vingar” de sua falta de felicidade e de extravasar suas frustrações pessoais.
Esquecem todos as lições do Mahatma Gandhi, com a sua política de não-violência, que afrontou de modo pacífico o poder do colonizador inglês e o expulsou da Índia. É preciso lembrar que a polícia é treinada e condicionada para agir como age. Ela só precisa de um pretexto.
O que está acontecendo no País, para quem viveu intensamente os anos de 1960, é um filme já conhecido, mas em outro momento, com outros personagens, que exigirá um desfecho. Que isso aconteça pelo bom-senso e a inteligência que houver por parte dos governantes e autoridades de modo geral. Nesses últimos dias o Brasil começou a ficar um País diferente. (C.J.)