BRASILEIROS – ATÉ QUANDO SENTIREMOS NOSSA INTELIGÊNCIA APRISIONADA?

Política e historicamente, o Brasil é um país surreal, incapaz de lidar com a verdade explícita. Ao invés, é abundante no envernizamento que mascara a verdade. Seu povo, do ponto de vista dos poderosos, é considerado um personagem coadjuvante.

Os governantes habitualmente tiram do povo tudo que podem para recuperar suas finanças, mas adulam com todas as facilidades a elite econômica. Seguem a cartilha da democracia liberal do Tio Sam elaborada para consumo mundial dos países alinhados.

O Governo, ou mais precisamente seus personagens mais destacasos, trata a elite como uma entidade sagrada.

Já a nação, formada pela totalidade de seus cidadãos, a população, e concebida como profana, portanto não merecedora de reverência e respeito. Apostam fichas elevadas na crença de que o povo, ah! o povo que se lixe, dê-lhes brioches, se sentem fome.

A atitude de desprezo pelo povo vem de longa data, entranhou nas gerações dos mandarins, desde o tempo da escravidão. Lembremos que escravo não é gente e tampouco cidadão, ouvimos os ecos ressoando desde a Antiguidade grega.

A escravidão, protegida por leis e burocracias complexas, continua a existir sob novas roupagens. Uns poucos têm infinitamente muito e muitos, infinitamente pouco. Milhões nem mesmo têm direito ao trabalho.

Os mandachuvas, porém, não percebem que há algo maior que eles, a Natureza, que estão liquidando numa velocidade que surpreende os cientistas preocupados com o destino da Terra e da Humanidade.

Mares, rios, florestas, geleiras estão saturados de poluição destrutiva e derretendo pelas interferências climáticas provocadas por uma voraz produção de objetos nunca havida antes em nossa pequena esfera que gira em torno do Sol, carregando em sua pele mais de sete bilhões de seres humanos.

A insanidade de presidentes de países se reflete sobre as vidas dentro dos países que “administram” e ao redor do mundo porque não faltam ideias mal intencionadas e perversas, encobertas por camadas de verniz de cores camaleônicas para iludir e esconder a realidade da maioria ingênua, por deseducação planejada.

O pano de fundo se baseia em uma concepção política de que a maioria do povo é formada por polichinelos facilmente “domesticados” por mentiras e promessas que são adiadas eternamente como no suplício de Tântalo.

Os políticos, por terem um DNA despudorado, seguem em sua exploração despojados de qualquer sentimento de culpa. Derretem-se na cobiça de ampliar seus poderes indefinidamente.

Princípios éticos, de natureza secular ou religiosa, não fazem parte de sua consciência humana. E a verdade é ocultada sob os mais diferentes disfarces.

Há, no entanto, um fato, proveniente de uma tecnologia jamais havida no planeta, que poderá erguer o maior obstáculo igualmente até então inédito. Nunca houve tantas câmeras gravando coisas, personagens, falas, revelando acordos secretos, denunciando fatos que no passado permaneciam inacessíveis.

Esse fato se tornou tão repugnante que uma lei [Lei de Acesso às Informações – LAI] teve de ser criada [entrou em vigor em 16 de maio de 2012], a fim de possibilitar a qualquer pessoa, física ou jurídica, sem necessidade de apresentar motivo, o recebimento de informações públicas dos órgãos e entidades.

Se o Brasil da atualidade resultou ideologicamente de uma cascata de “fake news” exploradas à exaustão, com denúncias falsas, factoides, mentiras copiosas, exibição de obscenidades, promoção de armas como meio de relações humanas conflitantes, certamente chegará o momento em que o mesmo veneno produzirá seus antídotos.

O feitiço poderá voltar-se contra seus autores porque ele foi liberado largamente à sociedade e construiu um hábito sórdido entre os brasileiros.

Definitivamente, não pode haver verdade sem liberdade, assim como a inteligência de um povo não pode ser aprisionada por muito tempo. Este é um fio de esperança que ainda resta e que começa emergir como as pequeninas bolhas que indicam que a água fria inicia seu processo de ebulição. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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