SOS – BREVE REFLEXÃO SOBRE VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS

A palavra fascinante, no sentido de encantamento, parece ser usada com reserva no mundo da ciência. Talvez seja pouco condizente com o objetivo de buscar a verdade com base em provas inquestionáveis.

Mas, e quanto às questões que se encontram em aberto, ocultas dos olhares incisivos dos cientistas e talvez assim o permaneçam por muito tempo? Ou, como refletiu William Shakespeare, tido como o maior escritor do idioma inglês e o mais influente dramaturgo do mundo:Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia.”

A complexidade da mente humana exerce seu fascínio como um desafio mesmo em relação a fatos que influenciam nossas existências desde que ingressamos neste mundo repleto de palavras, gestos, cantos, pinturas e cenários com os mais diversos endereços.

Escolhemos a palavra expressividade como tudo aquilo que existe dentro de nós como potência e que flui ou não para o outro, envolvendo frequentemente as mais variadas emoções cujas raízes se encontram em nossa intimidade mais profunda.

Eu a vi hoje num comércio, na tarde deste feriado, se aproximou para dizer-me que se sentira desassossegada, pois quando pôs-se a olhar para dentro de si com profundidade se assombrou com uma cena que se ocultava nos limites dos seus cinco anos.

“Sim busquei o atendimento de uma psicóloga e ela dizia-me que expressasse meus sentimentos, mas como, se não consigo fazê-lo?

No ato recordei de uma frase da escritora Clarice Lispector: “É culpa minha se não tenho acesso a mim mesma?”

Observe-se como se equivalem essas duas expressões: ambas contam a história da dificuldade como nós, seres humanos, temos de conviver com nossa intimidade e lançá-la para um amigo, um parente ou mesmo a um terapeuta.

Se as próprias pessoas convivem, bem ou mal, às vezes por toda a vida, dentro de labirintos com lugares secretos, como conseguir transpor ou iluminar esses aspectos sombrios de nossa personalidade?

“Fui assediada dentro de casa quando tinha cinco anos, mas receio que não acreditem em mim se o disser. É uma questão que me atormenta silenciosamente e que melhorou depois que me casei e formei uma família.”

Talvez seja um erro forçar aberturas expressivas nas pessoas, pois elas vivem em seu próprio tempo que exige espera para lidar com assuntos dessa natureza. Além disso, existe o contexto de vida em que a pessoa está inserida que inibe ou mesmo provoque vergonha no ambiente de suas relações diárias.

Afinal, se abrir para os outros pode oferecer riscos que não queremos correr e, por via das dúvidas, há uma tendência de nos acautelarmos, o que é corriqueiramente humano.

No entanto, é preciso ter fé ou confiar no imenso e milenar esforço feito pelos homens para livrá-lo dos sofrimentos existenciais que se traduzem em uma vasta diversidade de terapias praticadas por especialistas, com e/ou uso de medicamentos durante as atenções e cuidados do tratamento.

Saibamos, entretanto, que não há resposta para tudo, uma vez que cada pessoa é um universo único e somos diferentes uns dos outros, mas quando a gente sente mal-estar podemos buscar ajuda, sendo este o primeiro passo talvez do que virá a ser uma redenção, quando as grades que aprisionam enfim se rompem e você se descobre como um ser livre e íntegro. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

   

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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