TEORIA DO CAOS – QUANDO AS ABELHAS MORREM, MORRE UM POUCO DE CADA UM DE NÓS
A versão mais popular da teoria do caos, ou seja dos desiquilíbrios, inclui uma teoria, segundo a qual, o bater de asas de uma borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.
Além do mundo da matemática e da física, a teoria do caos pode também servir de referência para os desequilíbrios políticos, sociais, econômicos, de saúde e existenciais. Estamos fora do olho do furacão, onde as turbulências são altamente destrutivas. Isso vale para o mundo, para o Brasil e para a nossa cidade de Ibiúna.
Em dezembro de 2013, uma área com 130 mil m2 foi inteiramente devastada, na altura do km 67 da Rodovia Bunjiro Nakao. A destruição com maquinas equipadas com grossas correntes foi feita com extrema rapidez e às escondidas. Milhares de árvores de mata nativa, assim como muitos animais, especialmente bugios, foram mortos pela fúria e ganância irresponsável dos proprietários da área.
Vale lembrar que a devastação “silenciosa” das matas ibiunenses prossegue um curso desalentador aparentemente longe dos olhos das autoridades, incluindo loteamentos clandestinos.
No começo de 2018, um surto de febre amarela liquidou com as colônias de bugios que povoavam nossas florestas e desapareceram. Muitos foram mortos impiedosamente com tiros, bordoadas ou veneno.
Em dezembro de 2018, milhões de abelhas apareceram mortas na região do bairro do Piratuba e a causa da morte confirmada por exames laboratoriais foi um agrotóxico Flutriatol, um fungicida utilizado na agricultura.
Agora, como noticiamos na sexta-feira (16), a tragédia ecológica se repete na mesma região, com a mortandade de milhões de abelhas que, além de produzir mel, são responsáveis cruciais para a vida no planeta e o equilíbrio dos ecossistemas. Especula-se, cientificamente, que se as abelhas desaparecerem do planeta em cinco anos estaria comprometida a vida da humanidade.
Como reza a teoria do caos, fenômenos locais, como a mortandade das abelhas, podem ter reflexos cumulativos mundiais, com consequências terríveis provocadas por desequilíbrios dessa natureza, com a somatória dos fenômenos.
Perdidos na luta pela sobrevivência diária e hipnotizados pela conquista de bens materiais de modo insaciável, estamos, todos, destruindo nosso município e contribuindo com nossa parcela para a destruição do mundo. O lixo acumulado em imensas quantidades, que formam ilhas ondulantes nos mares, mata peixes, compromete a cadeia de reprodução animal e contamina as águas com elementos tóxicos.
A cegueira, a má fé e irresponsabilidade de presidentes de diversos países, como o nosso, pelas posturas que vem adotando em relação ao meio ambiente, poderão acelerar ainda mais os danos ambientais de forma irreversível.
O fato inquestionável é que a natureza tem suas próprias regras para estabelecer equilíbrios de modo que tanto a fauna quanto a flora, incluindo o animal humano, continuem a existir. A morte dos animais, como as abelhas, é uma questão decisiva da maior importância, ainda que pouco percebamos no dia a dia.
É também previsível que a própria Terra terá o seu fim, assim como o Sol deverá, segundo previsões científicas, explodir e deixar de existir daqui a 5 milhões de anos. ´
Mas, isso não significa que devamos agir com atitudes irresponsáveis. Não importa, como declarou o filósofo Mário Cortella em uma palestra recente: ao longo da vida cada ser ingere 40 toneladas de alimentos, assim como as excreta no meio ambiente.
Podemos nos tornar conscientes de que se nos alimentarmos de forma saudável poderemos sujar menos o mundo, assim como exigir dos produtores que descubram novas maneiras de proteger as plantações sem causar tantos e desastrosos efeitos colaterais. Isso, na realidade, deve fazer parte das agendas prioritárias dos governantes.
Temos ingerindo tantos alimentos contaminados que os reflexos em nossos corpos aparecem na forma de diversas doenças, algumas de extrema gravidade, como o câncer.
Enfim, é preciso ressaltar que as abelhas, assim como os bugios, não são o problema. O problema são os agrotóxicos, quem os fabrica e modo como são empregados nas plantações.
As autoridades municipais devem tomar atitudes mais claras e vigorosas para prevenir que novos acontecimentos lamentáveis como esse voltem a ocorrer e informar a população das medidas tomadas, mesmo revelando, se preciso, a omissão ou indiferença de autoridades estaduais e federais às quais compete, em instâncias superiores, combater o problema. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)