IBIÚNA – DESEJO DE “IR ÀS RUAS” É MANIFESTADO EM GRUPOS SOCIAIS

Já se observa, em alguns grupos sociais ibiunenses, manifestações do desejo de “ir às ruas”, como forma de protesto ante a situação em que se encontra a cidade.

Se isso vier a acontecer em algum momento significará uma ruptura com a história tradicional do município, não afeita a esse tipo de comportamento público.

Na condição de jornalista, acompanhei todo o movimento de rua feito pelas professoras em março de 2015, que “exigiam condições mínimas de trabalho”.  Houve uma concentração em frente ao Paço Municipal e passeata pelas ruas centrais da cidade.

Acreditem, são as mulheres, ou sororidade, os munícipes mais tendentes a tomar essa iniciativa, como uma manifestação para demonstrar claramente o descontentamento com a atual administração, sobretudo nas áreas de saúde pública e questões relacionadas com transporte escolar, lixo, entre outros temas.

As pessoas se sentem “indignadas” com o que veem no cotidiano em meio a uma sensação de inércia gritante dos poderes públicos, inclusos aí os poderes Executivo e Legislativo.

A falta de transparência ou opacidade nas relações com os munícipes tem gerado um processo de exaustão em torno do que deveria acontecer e não acontece.

Entre o desejo latente e o manifesto existe uma distância que passa por um processo de iniciativa que me lembra a fábula do escritor francês Jean de La Fontaine (1621-1695) que li ainda no grupo escolar.

A fábula é uma narrativa de uma estratégia dos ratos que viviam sob ameaças constantes de um gato. Eles se reúnem e trocam ideias entre si. Um rato mais experiente teve a seguinte ideia: “Já sei, vamos amarrar um guizo no pescoço do gato. Toda vez que ele se movimentar, ouviremos o barulho. Assim, poderemos fugir e nos proteger.”

A grande dúvida que os paralisou foi uma pergunta: “Quem vai amarrar o guizo no rato?” O medo das pequeninas criaturas fez com que o projeto fosse adiado, até que aparecesse algum deles com coragem para realizar a tarefa temerária, pois descobriram que o gato muitas vezes fingia que estava dormindo para, num golpe, saltar sobre um infeliz e engoli-lo instantaneamente.

A expressão “quem vai pôr o guizo no gato?” ficou consagrada como aquele que em prol do bem comum, mesmo diante de um risco pessoal, vai colocar o guizo no pescoço do gato para evitar que o gato continue a pegar a todos de surpresa. 

Lendo a filósofa Viviane Mosé, gostaria de compartilhar o que ela disse sobre o mundo dos humanos, quando se veem numa situação similar. 

“Mudar a realidade [presencialmente] é um pouco mais difícil do que se indignar. Não basta ir pra rua, gritar, apontar o problema; não tem um menu com botões para clicar [como fazemos em desabafos na internet]; para interferir na realidade é preciso propor, o que não exige pré-requisitos, mas exige tempo, empenho, disciplina, paciência, insistência. Exige saber ouvir. Exige ceder. Exige saber fazer acordos. E isso é o que de fato não sabemos.”

Em outras palavras, exige maturidade política, responsabilidade social, organização, transparência entre os pares, confiança mútua, determinação grupal unitária e, sobretudo, compreender a função destoante do medo oculto que faz parte de todo movimento que visa promover transformações. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *