LIVRO AUTOBIOGRÁFICO DE FERNANDA MONTENEGRO É UMA PRECIOSIDADE CULTURAL

“Tudo vai se harmonizando para a despedida inevitável. Inarredável. O que lamento é a vida durar apenas o tempo de um suspiro. Mas, acordo e canto.”

Com estas palavras, a justamente premiadíssima e estrela de primeira grandeza do teatro brasileiro, encerra seu livro autobiográfico intitulado Fernanda Montenegro – Prólogo, Ato e Epílogo, escrito com a colaboração da jornalista e dramaturga Marta Góes.

Nonagenária, Fernanda tece uma narrativa deliciosa com uma memória impressionante, mesmo em pormenores que ganham vida como a que interpretou ao longo de décadas nos palcos brasileiros e no exterior, onde sempre encenou com desempenho exuberante.

Seu livro é uma joia preciosa cujas facetas apresentam diversas perspectivas. É um testemunho do que a arte da representação tem de melhor, mas também um espelho da história do Brasil, de uma personalidade forte e obstinada, de trato fácil, amizades calorosas e afetivas, de um senso de dignidade e comportamento ético irrepreensíveis.

As dificuldades por que passa e supera com a energia da persistência, com momentos de dor, mas também de alegrias, constituem uma lição de vida para todos aqueles que defendem com unhas e dentes a liberdade de ser, como prioridade da realização humana e fidelidade aos seus sonhos.

A leitura das 272 páginas é fácil, limpa, magnetizante, com a qualidade editorial Companhia das Letras. O livro exibe ilustrações fotográficas da atriz em cena nos palcos e nas telas do cinema, o ambiente familiar e peças promocionais dos espetáculos.

As palavras carinhosas que dedica aos seus colegas de trabalho, produtores, diretores, cenógrafos são ternas e transpiram veracidade dos sentimentos e, por ser amável, se tornou referência no cenário das relações humanas leais e mutuamente confiáveis.

Fernanda é única, íntegra, generosa.  Esses atributos a tornaram um ser amado, respeitado, porque irradia um saber aprendido na prática de interpretar a vida com suas infinitas possibilidades, altos e baixos, e sufocos financeiros comuns a milhões de brasileiros. 

“Pela vida afora, acumulei algumas observações. São intuições. Quando temos muitas certezas sobre o nosso modo de agir, em cena ou na vida, corremos o risco de ficarmos circunscritos a uma técnica que nos imobiliza naquele processo domado, dominado, que nos congela.”

“É a ponte com o imprevisto, o improvável, o absurdo que, muitas vezes, nos leva a renascer. No palco, atingir o impensável é fundamental. Essa é a batalha.”

Fernanda Montenegro completou 75 anos de uma carreira exemplar, sobretudo para aqueles que fazem da arte um modo de ser no mundo. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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