ARTIGO – HORROR EM FORMA DE SOCOS, CHUTES E PONTAPÉS

Se você que me lê é um cidadão que vê cenas de brutalidades contra uma jovem que acaba de sair da escola e consegue dormir o sono dos justos, como se nada tivesse com esse caso, saiba que está incluso no que os sociólogos definem como homem-massa. Este tem algumas características nauseantes: inconsciente, egoísta, mesquinho, medroso, vulgar, comum, covarde.

É penoso escrever algo assim, com esses adjetivos tão ásperos, mas é que essas atitudes são um dos grandes responsáveis pelas graves doenças sociais que assolam os dias presentes. Viver é perigoso, sempre se soube disso, mas apenas pensar mesquinhamente em si e danem-se os outros torna a vida ainda mais insegura e dolorosa.

Na realidade, cada vez que alguém é agredido ou morto, toda a humanidade é atingida de alguma forma por esse acontecimento. É fácil demais e embrutecedor sentir prazer em lutas no octógano, em que só falta mesmo terminar sempre em morte, como acontecia nas arenas romanas, para o delírio orgíaco da multidão e dos nobres diante do sangue derramado sobre a areia. Mas que sadismo é esse que faz pessoas assistirem impassíveis e se divertirem enquanto uma jovem é subjugada e leva uma surra sem mesmo conhecer seus agressores ou ter dado um motivo, ainda que injustificável, para tal acontecimento.

É bom destacar de modo categórico que nada justifica o que aconteceu. A agressora dessa história em seu depoimento ao escrivão em Ibiúna teria dito que ela e o rapaz que a acompanhava teriam sido xingados, fato que é categoricamente desmentido pela vítima. “Eu nem conhecia os dois”.

A dor desse drama é um assunto de toda a cidade e não pode passar sem que haja uma atitude efetiva e pertinente para impedir sua repetição. Já não bastava o problema com as drogas de difícil solução mundial. Agora a banalidade é essa violência crua, direta, monstruosa, típica da barbárie já vivida pela humanidade.

Como nada se pode esperar do homem-massa, devemos e precisamos esperar urgentes e verdadeiras providências por parte das pessoas autônomas e maduras, que conseguem pensar por si mesmas, ter consciência crítica e enxergar a realidade tanto com a razão quanto com a sabedoria de coração de pais e mães que andam aflitos. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.