OPINIÃO – DELÍRIO NACIONAL

A descomunal, intensa e profusa carga de informações lançadas à nação, entre as quais abundantes mentiras de caráter ideológico e enganoso, faz com que os brasileiros se sujeitem a um estado de delírio social. Essa é a doença à qual estamos sujeitos devido aos crônicos e agudos problemas que enfrentamos cotidianamente.

O que se lê e vê na mídia, refletindo o status quo político, e nas redes sociais, como reflexos da situação vigente, banalizou o sentimento de insegurança social e política na grande embarcação onde todos nos encontramos. O medo se generalizou, a violência se amplia diariamente, assim como a insegurança econômica.

As palavras caíram num descrédito absurdo por perderem sua representatividade expressiva. As autoridades, as instituições de modo geral, protagonizam atos que ferem a dignidade humana e provocam doenças psicossomáticas em abundância.

A alucinação é um estado psicopatológico baseada “em falsas conclusões tiradas pelos indivíduos dos dados da realidade exterior”, isto é, pela forma como vê o mundo, que inclui todos os outros”. Então, isso diz respeito à situação subjetiva dos próprios indivíduos.

Trata-se de “uma perturbação mental que se caracteriza pelo aparecimento de sensações (visuais, auditivas, etc.) atribuídas a causas objetivas que, na realidade, inexistem; sensação sem objeto”, e que exige cuidados e tratamento especializados.

Não é dessa alucinação a que estamos nos referindo, mas numa “alucinação psicossocial” decorrente do contínuo estado de sofrimento em torno de fatos e notícias ruins. Estão mais vulneráveis a essa doença os indivíduos, aos milhões, que não encontram emprego e não podem sustentar seus familiares. Com a falta de trabalho, os homens se sentem frágeis e feridos em sua honra.

Não é à toa que o consumo de drogas, incluindo bebidas alcoólicas, se expande em proporção intolerável. O que sentem aqueles que se drogam e por que se drogam? Não é por acaso que a Cracolândia é um fato social que as autoridades públicas não conseguem resolver. Quantos crimes são noticiados com a informação que foram cometidos sob o efeito de drogas, mesmo no interior das famílias?

Por que tantos jovens buscam compensação dos seus problemas existenciais usando drogas? Quantos assaltam ou roubam nas ruas e nas residências para conseguir dinheiro para adquirir drogas? Drogas causam alucinação, a falta delas, também.  

Então estamos lidando com um fato social da maior relevância para a saúde e o futuro do Brasil, enquanto se registram homicídios aos milhares por ano e suicídios, sobretudo entre jovens, como solução final para quem não vê sentido para o viver.

O francês Emile Durkheim (1858-1917), considerado pai da sociologia científica, fonte de estudo obrigatório nos cursos de Ciências Sociais, assim define fato social:

“São os instrumentos sociais e culturais que determinam as maneiras de agir, pensar e sentir na vida de um indivíduo. Assim, o fato social o obriga a se adaptar às regras da sociedade.”

A pergunta que não pode calar, nesta altura, é: quais são as regras que devemos seguir, ou, mais ainda, existem regras? Quem são os responsáveis por determiná-las? Eles as cumprem por meio de suas condutas?

Acreditamos que a maioria dos brasileiros está seguindo as regras sobrevivência mínima em meio ao sentimento de solidão aterrador e à margem do que poderia ser uma sociedade humana e civilizada. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

 

 

 

 

 

 

 

 

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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