EDITORIAL – PREFEITURA DEVE OUVIR A VOZ DO POVO
A notícia que publicamos ontem (28) sobre o processo de investigação anunciado pela Prefeitura de Ibiúna, a pedido do Banco do Brasil, a fim de apurar possíveis irregularidades no Condomínio Residencial Ibiúna (Minha Casa, Minha Vida), no bairro da Cachoeira, foi lida até o momento por mais de 3.000 pessoas e recebeu comentários de mais 250 leitores, a maior parte dos quais residentes naquele local.
Ainda que não tenha responsabilidade direta sobre o que possa ter ocorrido, pois o programa foi iniciativa de governos anteriores, a Secretaria da Habitação deve levar em conta centenas de comentários publicados tanto na página de vitrine online quanto de outros grupos nas redes sociais.
Ali se encontram indícios que apontam para a gravidade da situação. Ouvir a voz do povo, nesse caso, pode contribuir decisivamente para obtenção de resultados concretos e objetivos, a fim de que a justiça seja feita, em nome daqueles que se consideraram e se consideram “injustiçados”.
HISTÓRIA COMPLICADA
O projeto que resultou na construção de 472 residências foi iniciado no governo do coronel Darcy Pereira, em 2009, mas sua concretização se deu no período da troca-troca de governos do Prof. Anselmo Domingues e Fábio Bello, por intervenção da Justiça Eleitoral.
O sorteio foi realizado no dia 30 de setembro de 2014, de forma transparente e perante mais de 1.500 pessoas em ato realizado no ginásio de esportes do Centro Olímpico, no centro da cidade.
De 2009 a 2011 haviam se cadastrado para concorrer ao sorteio da casa própria na Prefeitura cerca de 5.000 famílias.
Antes disso, no governo Fábio Bello, foi aberto um processo de recadastramento, alegando-se que “apenas” iam ser considerados cadastrados de pouco mais de 600 famílias, segundo informou, na época, seu então secretário da Habitação. O recadastramento foi convocado e o número subiu para mais de 1.500 pessoas.
A partir daí, hora entra um, hora outro prefeito, a situação se tornou complexa e nebulosa.
No dia 20 de fevereiro de 2015, uma sexta-feira, o prefeito Fábio Bello promoveu, no próprio residencial, uma festa para entrega de chaves, com a presença de um deputado estadual, secretários e vereadores, além da população interessada, com direito a poses para fotografias.
Uma senhora, vitrine online a entrevistou, estranhou que logo após ter recebido as chaves, em seguida as retomaram, informando que ela deveria recebê-las no Paço Municipal na segunda-feira (23). Nesse dia se formou uma fila desde às 6h30.
O tempo foi passando, a situação se complicando, houve um início de confusão e o secretário da Habitação, já era outro, decidiu entregar o maior número de chaves possível, a fim de evitar a ocorrência de um tumulto.
PROBLEMAS
Desde o início habitar o residencial se tornou problemático, com falta ou atrasos de pagamentos, cortes de fornecimento de água pela Sabesp, por falta de pagamento. Os moradores procuraram ajuda à OAB e se reuniram com seu presidente diversas vezes pedido a intervenção da entidade. Os problemas administrativos também se tornaram evidentes e prosseguem até a atualidade, de acordo com os comentários dos seus moradores.
Segundo alguns, “demorou” para que houvesse uma investigação agora anunciada. A notícia enviada pela Prefeitura sobre essa medida foi cautelosa, usando verbos no condicional, tipo “seriam”, para se mostrar isenta em relação a pré-julgamentos antes que os seus resultados oficiais sejam conhecidos e tornados públicos.
O importante agora é chamar aqueles que se manifestaram, a fim de que os indícios apontados sejam rigorosamente apurados. As pessoas que moram no residencial têm, aparentemente, muitas histórias para contar sobre as possíveis irregularidades.