ERA UMA VEZ UM VELHINHO CHINÊS…

Ele morava num casebre muito simples no meio de uma imensa plantação de arroz, tão imensa que quase não era percebido e era raríssimo que alguém passasse por ali e conversasse com ele.

O sol se levantava e se punha e aquele homem idoso, já vergado, parecia ter adquirido uma sabedoria, ou pelo menos um modo de existir, bem peculiar, diferente daqueles que moram nas grandes, ruidosas e caóticas cidades do planeta.

Quem me narrou essa história foi um consultor de empresas em seu escritório em um bairro paulistano, faz anos. Um dia, depois de enfrentar um período em que a vida parecia sem sentido e absurda, abandonou tudo e foi viver em uma praia no Nordeste. Ficou ali dois anos, até que os demônios dos pensamentos fossem, finalmente, destronados. Assim, pôde voltar à civilização com a qual passou a ter um relacionamento a partir de uma nova forma de enxergar o mundo.

“O velhinho chinês tinha um hábito diário que parecia ser o segredo de sua vida longeva e tranquila. Acordava naturalmente com o primeiro clarão do dia, esquentava a água e preparava o chá com alguma erva que plantava em sua horta. Depois, lentamente, saboreava o chá que exalava um doce perfume em seu quarto-cozinha cujas paredes construídas com folhas de palmeira tinha frestas por onde entrava a luz.”

Não tinha pressa nenhuma porque não havia razão alguma para senti-la. Pressa para quê? Seus sonhos e pensamentos fluíam com o tempo da natureza, assim como o lento e gradual despertar de um novo dia marcado pela luz da aurora e canto dos pássaros e os havia muitos na vizinhança. Os pássaros e outros animais se tornaram sua companhia e amigos de longos papos, cada qual com seu jeito de dizer.

Alguns homens que se sentem como formigas nas grandes aglomerações das metrópoles do mundo – sempre apressadas, agitadas e, não raro, despojadas de sentido, pois todos podem pressentir como terminam todas as histórias; somente os tolos, talvez, não percebam. Então, alguns homens, como algumas mulheres – decidem abandonar tudo e buscam retornar a um estado primitivo longe da insana civilização.

Em poucas palavras, eles decidem cair fora do sistema pelo qual desenvolvem uma aversão radical.

Isto aconteceu com o estudante Christopher McCandless, filho de pais ricos. Ele se forma na universidade de Emory como um dos melhores estudantes e atletas. Mas, em vez de seguir uma carreira prestigiosa e lucrativa, ele escolhe doar suas economias para caridade, livrar-se de seus pertences e viajar pelo Alasca. Sua história de vida foi para as telas do cinema com o famoso filme “Na natureza selvagem”.

Acontece também com muitos seres que já habitaram a Terra, como Jesus e Buda que se isolaram do mundo para encontrar a luz da verdade que se esconde de nossos olhos comuns.

Mas estamos falando de um velhinho chinês que aqui simboliza um modo de viver em paz consigo mesmo.

Pois bem, todos os dias, quando abria a porta de seu casebre, ele cofiava sua longa barba de fios brancos esticados, olhava para o céu e dizia:

“Hoje tenho duas escolhas: ser feliz ou ser infeliz”.

Invariavelmente, escolhia ser feliz. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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