PANDEMIA – “BOM-DIA, VIETNÃ!”, ISTO É, “BOM-DIA, BRASIL!”

Se você é brasileiro atento e razoavelmente bem-informado, more em uma pequena ou grande cidade, acordou hoje com as seguintes notícias, nenhuma delas, infelizmente, positiva ou tranquilizadora. Há razões de sobra para ter se instalado os maiores índices de medos detectados em pesquisas de opinião pública.

Caso esteja totalmente tomado por atividades de sobrevivência, que não lhe sobra tempo para acessar as informações aqui vai um resumo para saber em que mundo está vivendo, segundo o olhar da grande imprensa brasileira. Vamos lá!

Datafolha, uma empresa de pesquisa séria e respeitável constatou que “para 79% dos brasileiros, a pandemia por covid-19 “está fora de controle”. “Medo é recorde.” E a gente imaginava que poderia ser constatado que um índice bem maior poderia emergir dos entrevistados, porque haveria exceção, por exemplo, do presidente Jair Bolsonaro e seus aliados.

O insuspeito médico e neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis adverte que há o perigo de chegarmos ao ponto de os cemitérios não comportarem tantas mortes. “Começamos a falar de infecções secundárias, contaminação do solo, lenções freáticos. Entra em uma escala das batalhas da II Guerra Mundial”, mas ele poderia também se referir à Guerra do Vietnã e do filme “Bom-dia, Vietnã” em que toda a população do país asiático se sujeitou a todo tipo de ataques e que matava centenas ou milhares de pessoas todos os dias, incluindo por efeitos de bombas químicas que eram lançadas pelo exército norte-americano.

No Brasil o número total de mortos se aproxima dos 300 mil, que deverá ser ultrapassado nos próximos dias, com previsão de atingir 500 mil em maio, diante da inépcia do governo federal que já mudou o ministro da Saúde pela quarta vez.

Se você, leitor ou leitora, não tiver estômago forte, pare por aqui. Finja que isso não é notícia que se deva ler.

Outras manchetes: “Brasil responde por um em cada quatro óbitos ocorridos por covid-19 no mundo”; “Cemitério do mundo, Brasil vê o enterro do que restava de sua reputação” [mundial]; “Vamos passar os 3.000 mortos diários por covid como um foguete”.

SEGURA MAIS ESSA

“Internação em UTI cresce 50% em 17 dias e cidade de São Paulo [uma das maiores do mundo] se aproxima do colapso.”

Inacreditável: “Governo federal faz campanha no exterior para vender êxitos no combate ao vírus.” Esta manchete dá vontade de inserir aquela figura que representa o vômito.

Esta não poderia faltar: “Polícia interrompe balada com mais de 100 pessoas na Grande São Paulo.”

REPULSA

Agora, se você aguenta mais um pouco veja o que declarou o líder do governo no Senado Federal, Eduardo Gomes (MDB-TO), a respeito da morte aos 58 anos por covid de seu colega major Olímpio, que causou grande consternação no Brasil: “Major Olímpio não morreu por causa do governo.”

Sua intenção era isentar de culpa o presidente Jair Bolsonaro que, por sua vez, em live nem sequer mencionou a morte de Olímpio, inicialmente apoiador e que se tornou, depois, crítico do seu governo. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *