IBIÚNA E O SOLO SAGRADO
Nós, os ibiunenses natos ou adotivos, amamos nossa cidade. Ainda agora, no dia 24, quando nosso município completou 164 anos, publicamos uma infinidade de mensagens comemorativas. É muito bom amar a terra onde vivemos e com a qual nos identificamos como nosso lar comum.
Mas é preciso, assim entendemos, abrirmos nossos olhos para uma realidade que precisa ser encarada sem miopia e que diz respeito ao futuro que se constrói a cada dia.
Por décadas problemas vêm se acumulando em relação à natureza da qual tanto nos orgulhamos, mas que vem sendo maltratada e mesmo destruída gradativamente a olhos vistos, seja por loteamentos clandestinos, desmatamentos legalizados, poluição dos córregos, rios e a majestosa represa Itupararanga e o descarte em massa de lixo nas estradas que atingiu níveis escandalosos em sucessivos governos anteriores.
Mesmo que a atual administração esteja se esforçando para regularizar esse problema, cujos reflexos se veem na montanha de resíduos no aterro sanitário, esse problema precisa ser solucionado para se justificar o título que recebemos de estância turística no ano 2000, mas que não temos sido dele merecedores. Uma cidade limpa é, por si só, uma atração turística.
Bem, começamos a nos aproximar do propósito desta breve escrita: precisamos, todos, autoridades públicas, munícipes, entidades, empresas, associações, condomínios, turistas, grupos das redes sociais, estabelecer um mote, ou motivo, para mudança de comportamento, ou seja, na forma como “enxergamos” e nos relacionamos com a cidade, incluindo áreas urbanizadas e rurais.
Quem verdadeiramente ama a cidade precisa vê-la como um lugar sagrado, que exige respeito, carinho, atenção, como acontece quando nos encontramos num lugar santificado.
A razão é simples: as árvores são vidas, as pessoas são vidas, os rios são vidas, o solo é vida, o ar é vida. Até mesmo os minerais são vidas: sem eles não produziríamos um pé de alface, ou batata, ou cebola, ou escarola. Em suma: os alimentos são vidas que garantem as nossas vidas.
Qualquer coisa que seja destruída, degradada, desprezada se torna algo que passa a faltar. Assim começamos a perceber coisas que existiam e que começaram a faltar. O que nos falta para que façamos coincidir as impressões que temos com a realidade do nosso grande domicílio ibiunense?
Quando as coisas são sagradas para você, leitor/a, você passa a prestar atenção e respeitar. Respeito tem tudo a ver com a obediência, que não é uma renúncia a sua vontade, mas uma forma especial de “escutar” como virtude. O outro, todos os outros, seres humanos, animais, a natureza, se transformam. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)