TIA FILOMENA – “LAVAR LOUÇA É UMA TERAPIA [TAMBÉM] PARA OS HOMENS”

Isolada em uma casa antiga de pedras na região do Vêneto, nos Alpes Italianos, Tia Filomena, volta dar o ar de sua graça depois de anos tida pela família como “desaparecida”.

Diante do seu notebuque modernoso, aprendeu com o filho de uma amiga moradora na aldeia mais próxima a lidar com essa maquininha como ninguém, apesar de sua idade. “Nunca é tarde para aprender”, disse, abençoando seu sobrinho querido.

– Bom-dia, Carlos! Hoje quero mandar uma mensagem para todas as mulheres que acompanham sua revista que, aliás, é feita com muito carinho. Acompanho daqui tudo que publica.

Agora é com ela:

– Olá, meninas amadas! Hoje quero dar uma sugestão a vocês que tanto trabalham para sustentar a família: fazendo comida, lavando roupa e as louças que se acumulam com uma rapidez incrível, limpando a casa sem direito a férias.

– Já perceberam como essa trabalheira toda não tem a menor importância e é desvalorizada, como se não existisse e não provocasse cansaço e dor nas costas?

– Chega! Basta de injustiça! Queiram ser respeitadas todos os dias e não apenas no 8 de março, Dia Internacional da Mulher que, pra mim, é uma comemoração às vezes sem sentido, considerando o estado como vivem muitas mulheres.

….

– Há uma parada em andamento que diz respeito à libertação da mulher de toda a servidão imposta através dos séculos por um machismo obsoleto.

– Então vá com calma na sua caminhada. Comece com atitudes simples e respeitosas, por que não é fácil mudar hábitos. Por exemplo, procure fazer com que seus companheiros lavem as louças.

– Veja as vantagens que você obterá se conseguir essa façanha:

1. Ao lavar a louça, seu companheiro, marido, amante ou seja lá o que for que represente em sua vida, vai sentir na própria pele o trabalho que isso dá, além de dor nas costas. Se você souber conduzir essa conquista ele vai começar a dar valor para você;

2. Enquanto lava a louça, ele tem que estar concentrado no que faz e isso impedirá que fique pensando besteira de qualquer tipo;

3. Lavar louça tem uma função terapêutica incrível: trata-se daquilo que os estudiosos chamam de atitudes sensoriais, isto é, que os deixarão mais calmos e relaxados e menos agressivos, como acontece quando fazemos qualquer exercício físico;

4. Ele passará a se sentir útil dentro de casa, já que no exercício de sua profissão tem que se adaptar às impiedosas regras do jogo para não ser expulso (demitido).

– Mais um conselho: depois que ele acabar de lavar a louça, bata palmas, diga “parabéns”, faça um carinho, isso vai ajudar ele a se sentir homem e abandonar ideias infantis que pode ruminar mesmo em idade adulta.

Por fim, minhas queridas, vocês terão outros ganhos: suas mãos deixarão de ser maltratadas, suas unhas não quebrarão e você poderá tirar um tempinho para se dedicarem a vocês, fazendo algo que lhes dê prazer.

– Tchauzinhoooo!

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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