ITUPARARANGA – ‘CHUVA ABENÇOOU A REMADA PELA VIDA DA REPRESA’

Assim se manifestou um dos participantes da “Remada pela vida da Itupararanga”, protesto contra a destruição da represa realizado neste domingo no Parque Ecológico com a participação de dezenas de remadores de standup e caiaque.

O evento começou por volta das 10 horas da manhã com pronunciamentos enfáticos contra a situação da represa que, em quinze dias, como declarou a diretora da SOS Itupararanga, Viviane de Oliveira, poderá atingir seu volume morto, comprometendo o fornecimento de água para cerca de 1 milhão de pessoas na região Sorocaba.

Em seguida, os remadores receberam orientação do presidente do Clube do Remo Itupararanga, Dario Lara, de como entrar na represa com suas embarcações por causa do baixo volume de águas, lodo e existência de troncos que antes estavam submersos.

Daí deu-se início propriamente à remada que, coincidentemente, às 12h36, foi brindada com o início de chuva, leve é verdade, que prosseguiu mais forte na parte da tarde, o que fez com que um dos participantes, olhando para o céu, agradecesse e sentisse que a natureza estava abençoando o ato de amor pela represa.

Adal Marcicano e Marcelo Zambardino, organizadores da remada, assim como o apoiador Renan Godinho se manifestaram ao microfone apontando uma série de problemas acarretados por empresas como Sabesp, Cetesb e SAEE de Sorocaba, assim como de prefeitos da região que, com exceção, estariam não se empenhando para a solução do problema da represa que, de um modo ou de outro, afeta vida de cerca de 2 milhões de pessoas.

Não havia uma pessoa que vendo a situação crítica da represa não manifestasse tristeza e, ao mesmo tempo, a esperança de dias melhores que somente virão “quando os poderes públicos” agirem de forma eficaz e competente”.

A remada contou com patrocínio, apoio e participação de dezenas de pessoas amantes da natureza e da prática de exercícios náuticos e a presença da GCM de Ibiúna, Polícia Militar e Defesa Civil.

“QUESTÃO DE DIAS”

Viviane de Oliveira: “Questão de dias”

Num depoimento emocionado, a diretora executiva da SOS Itupararanga, Viviane de Oliveira, instituição criada há vinte anos para proteger a represa, fez um relato dramático da situação: “Se não chover e a retirada de água da represa prosseguir como está, em 15 dias, ela chegará na cota 813,50 que indica seu volume morto.”

Traduzindo: quando uma represa atinge seu volume morto isso significa suas águas já não podem ser utilizadas para o abastecimento público. O que, diga-se de passagem, poderá afetar a vida de 1 milhão de pessoas, especialmente em Sorocaba, mas cidades a montante do rio Sorocaba, como Votorantim, Mairinque e Alumínio serão os primeiros a serem afetadas.

Por isso mesmo, Oliveira fez um veemente pedido ao coordenador do Parque Ecológico, Adal Marcicano, que enviasse um documento dirigido o prefeito de Sorocaba e ao diretor do SAEE – Serviço de Água e Esgoto, a fim de que iniciem imediatamente o controle de consumo de água naquele município.

A diretora da ONG disse que se faz urgente a redução da saída de água da represa. Atualmente, para cada 10 mil litros/segundo que entram, saem mais de 20 mil litros/segundo, ou, de cada 2m3/s que entram, saem 5,5 m/3/s.

CAUSAS

Oliveira avaliou que o evento serviu para conscientizar a população para que economize água e despertar “os poderes públicos” suas responsabilidades para com “o destino da represa”.

Ela apontou diversas causas que contribuem para a situação a que chegamos, entre outros: falta de planejamento por parte das autoridades, interesses econômicos, desmatamento, mineração clandestina, loteamentos clandestinos, lançamento de esgoto sem tratamento e pesca predatória. Adal Marcicano apontou também o excessivo uso da água para produção de energia elétrica por parte da Votorantim Energia.

O engenheiro ambiental, Fernando Salles, que já foi secretário do Meio do Ambiente de Ibiúna, lembrou a necessidade imperativa de haver um monitoramento contínuo tanto da quantidade quanto da qualidade da água por parte da Cetesb.

A secretária de Cultura e Turismo de Ibiúna, Sakura Ishibuchi Nanni, destacou a importância do evento para conscientização da população.

Renan Godinho declarou que tem registrado diversos lançamentos de esgoto pela Sabesp nos córregos e rios que desembocam na represa e Marcelo Zambardino, que é presidente do Conseg, disse que o prefeito de Sorocaba “nem sabe o que acontece na represa”.

Adal: contente com o resultado do evento
Lara, presidente do Clube do Remo Itupararanga, deixou de remar na represa: ‘sem condição’

CÂMARA AUSENTE

Com exceção de um vereador que esteve presente no evento por um breve período de tempo e logo deixou o parque, nenhum outro vereador da Câmara Municipal de Ibiúna compareceu como seria de esperar, já que da superfície da Itupararanga 64% se encontram no município de Ibiúna.

Outro fato digno de nota é que até o momento os edis ibiunenses não instalaram nenhuma frente parlamentar ou comissão para lidar com o destino da represa. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

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