DIA DE FINADOS – O HOMEM COMEÇOU A SEPULTAR OS SEUS MORTOS HÁ 100 MIL ANOS

Estudos antropológicos [antropologia é o estudo do homem como ser biológico, social e cultural] indicam que o homem começou a sepultar os seus mortos há pelo menos 100 mil anos. Já então era denominado homo sapiens [homem sábio], ao criar um ritual funeral sabendo de sua finitude e da sua provisoriedade no mundo.

Uma das razões talvez tenha sido a crença de que o corpo do seu semelhante, sobretudo pessoas próximas, não deveria ficar exposto ao tempo e ser consumido por outros animais. Mas, também, é possível que esse homem “que sabe” [sapiens] talvez já estivesse consciente da fragilidade da vida, passageira como “um sopro” deveria ser respeitada e homenageada.

Dando um salto no tempo, chegamos aos dias atuais. Nesta terça-feira, 2 de novembro, se comemora o Dia de Finados, dia dos mortos, dos que passaram para outra dimensão, como acreditam alguns, para ter uma nova vida eterna na forma de espírito.

Nas religiões que creem em reencarnação, o dia dos mortos não é celebrado com tristeza, mas sim como verdadeira festa, porque se sabe que o morto estará de volta à vida na Terra em algum tempo. Parece que essa crença imperou no Egito, com funerais de corpos mumificados e instalados em tumbas com seus ricos pertences no interior de pirâmides. Acreditava-se, então, que quando a alma desses mortos, incluindo reis, voltassem,poderiam retornar aos seus corpos.

Entre nós, o Dia de Finados é geralmente comemorado com a ida aos cemitérios onde se faz oração, depositam flores nos túmulos e, de alguma forma, o falecido é homenageado em demonstração de respeito, em lembrança de avós, pais, filhos, irmãos, esposas, maridos, daqueles que “já partiram”.

Há aqueles que fazem diversas oferendas com a deposição de alimentos nos túmulos como se aquele ente querido na verdade ainda estivesse vivo em outra forma, o que parece ser uma tentativa de estabelecer um vínculo com o alimento da vida.

Muitos entre nós vivem momentos de profunda dor e tristeza pelos laços afetivos que existiam entre eles e a pessoa querida que os deixou. É realmente dolorido lembrar que a pessoa que amamos, que compartilhou sua existência conosco jamais será vista novamente, porque a morte, sabemos, é um ponto final na existência física e, de fato, raras vezes se consegue aceitar essa realidade.

O ritual do Dia de Finados é um acontecimento importante exatamente por nos tornar sublimes em nosso amor pelas pessoas que fizeram parte de nossa vida. De alguma forma, com ele, os mortos nos ensinam a dar valor à vida, pois ela é rara, frágil e passageira. Não é à toa que vemos tantos desejos manifestos nesse sentido: amem, reconheçam e curtam a vida enquanto ela diz presente a cada momento. (C.R.)

Carlos Rossini

Carlos Rossini é jornalista, sociólogo, escritor e professor universitário, tendo sido professor de jornalismo por vinte anos. Trabalhou em veículos de comunicação nas funções de repórter, redator, editor, articulista e colaborador, como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Diário Popular, entre outros. Ao transferir a revista vitrine, versão imprensa, de São Paulo para Ibiúna há alguns anos, iniciou uma nova experiência profissional, dedicando-se ao jornalismo regional, depois de cumprir uma trajetória bem-sucedida na grande imprensa brasileira. Seu primeiro livro A Coragem de Comunicar foi lançado na Bienal do Livro em São Paulo no ano 2000, pela editora Madras.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *