PRECISO SÓ DE UM DIA
de um dia para brincar. Não levar nada a sério, especialmente aquilo que as pessoas dizem quando estão endiabradas, cegas e estúpidas. Por que todos nós ficamos assim em algum momento. Sim. Preciso de um dia, apena um dia, para exorcizar de mim esses fantasmas produzidos pela loucura humana que atende pelo nome de ignorância.
Estamos sujeitos a sermos contaminados por um ou outro vírus, mas também pelas palavras e condutas de pessoas falsas que acham que têm o poder de nos envenenar por meio de malévolas intenções de nos manipular, intimidar, e de nos fazer sofrer.
Aí que entra em cena uma realidade que é preciso salientar. A maldade existe no mundo, mas pode não nos atingir se sabemos manter nossa integridade.
Um dia viajando num pequeno avião da Ilha do Bananal para Brasília, onde pegaria um outro avião a jato para seguir para São Paulo, a tempestade nos assustava. Chuva forte, nuvens densas, que a hélice do King Air cortava com vigor e as gotas d’água borrifando o para-brisa com o limpador em velocidade máxima para permitir melhor visibilidade.
A aeronave balançava, sacudia, às vezes rabeava, mas o piloto se mantinha firme no manche e no bom humor relaxante para os passageiros: ele fechava a mão em forma de cone e soprava em direção ao vento e ria e se divertia com o copiloto que checava de tempos em tempos um mapa aeronáutico. Estávamos sobrevoando a floresta amazônica!
Agora imagine o que você pode fazer em um dia em que sente uma ressaca de pessoas tóxicas provocando outras pessoas pelo WhatsApp, de maneira grosseira, infantil, destilando um mau humor irresponsável para intimidá-las. Sim. Nesse dia você pode vomitar tudo que entrou em você, que foi pego de surpresa, e se sentir aliviado depois de por para fora o que te fazia doer o estômago, ferido pelo ácido da raiva.
Nesse dia também você pode dar um passo a mais e verificar as possibilidades de criar anticorpos individuais e sociais, pela circulação de uma nova energia positiva, leve, serena, de modo a assegurar que o agressor, como um assaltante que espera a vítima de tocaia, não mais o surpreenderá, e pensará duas vezes se cometerá novos ataques contra você.
Aliás, Chico Buarque escreveu uma canção que vem bem a calhar. Eis um trecho nos diz:
“Pra mim basta um dia
Não mais que um dia
Um meio dia
Me dá só um dia…”
Às vezes a gente sente muito desconforto com as palavras alheias ditas ou escritas, mas pense que sempre depois de um temporal tudo se acalma e a natureza se vê rejuvenescida e com um novo vigor.
Às vezes, repito, a gente só precisa de um novo dia para se sentir novo e aquilo que parecia um fantasma assustador durante a noite de temporal não passará de uma roupa que balançava no varal soprada pelo vento. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)