IBIÚNA – RUA GUARANI É SÍMBOLO DO DESCASO COM O POVO
Os roteiristas do sistema de comunicação da prefeitura de Ibiúna se mostram cineastas que buscam, como nos pop movies de segunda classe, provocar sensação de que tudo está funcionando dentro dos conformes e que os votos que conferiram a vitória da autoridade de plantão não poderiam ser melhores. Tudo está indo bem, é a legenda presente em todas as produções lançadas ao público. Quem não acha isso são opositores impiedosos, pessoas maldosas, adversários políticos rancorosos.
Nesta segunda-feira (21), eis que surge a imagem do prefeito dirigindo um carro na Avenida Antônio Falci em direção ao local onde existia um terminal rodoviário que foi demolido para reforma. Os incríveis buracos da avenida não aparecem na cena, por que mostrá-los? As obras de recapeamento estão “a todo vapor”, anunciam.
Transformado em protagonista e acompanhado por um séquito do gabinete, torna-se garoto propaganda de uma obra que é objeto de desejo da população há décadas, escaldada do que qualificou de “lixo”, um lugar fedorento e desprezível. Daí que a reforma se tornou um dos seus principais trunfos políticos da atual administração.
O gestor diz que a obra da reforma está em curso, enquanto a câmera mostra sua comitiva, dois operários retorcendo barras de ferro, outro encarapitado no alto de uma escada raspando o reboco da antiga estrutura, única parte que restou da falecida rodoviária.
Procura desmentir pessoas maldosas que dizem o contrário, que a obra está paralisada. E dá a impressão que ela segue seu ritmo normal. Não segue.
A cerca de cento e cinquenta metros dali, na Rua Guararni, ao mesmo tempo, o povo enfrenta as agruras do sol forte, temperaturas elevadas, buracos enormes entre a calçada transformada e pontos de ônibus provisórios por meses. Nesse local um homem foi a óbito enquanto esperava pelo ônibus, mulheres desmaiaram ou se sentiram mal por causa da insolação, socorridas pela ambulância do Samu que é vista cada vez com mais frequência ali, me informa um funcionário da empresa de ônibus.
Mas o prefeito não foi ali gravar vídeo algum e, o que se esperava, anunciar que o local da estação rodoviária provisória será mudado para outro lugar, a fim de garantir um mínimo de conforto aos usuários, a maioria pessoas simples dos bairros ibiunenses ou montar uma estrutura de proteção contra sol, chuva, tapar os buracos e manter a via limpa.
Se fosse lá e de forma humana e respeitosa se aproximasse do povão, veria rostos envelhecidos precocemente, pessoas ansiosas à espera do ônibus que demora, sentadas no meio fio ou nos degraus das lojas expostas à poeira e à sujeira da rua, pessoas que se queixam mas pedem para não aparecer, acostumadas a viver com medo, inseguras. Reclamam por não se sentirem alvos de atenção das autoridades que elegeram, pois percebem, literalmente, a falta de respeito de que certamente são merecedoras.
A Rua Guarani que afundou por não suportar o peso dos ônibus se transformou no símbolo coletivo do sofrimento da população. E foram senhorinhas de cabelos brancos, pele do rosto marcadas pelo tempo, desejando que os ônibus chegassem logo para retornarem a suas casas, o trabalho doméstico para fazer, foram elas que melhor expressaram para vitrine online o fundo da consciência de um povo que sabe que o que está acontecendo ali não é certo, mas um pecado cometido por políticos insensíveis.
E os vereadores igualmente eleitos pelo povo? Bem, com exceção de uma vereadora que cobrou do prefeito esclarecimento sobre a situação caótica da Rua Guarani, todos os demais se mantém distantes ou alheios dessa dura e cruel realidade. E isso ninguém entende. (Carlos Rossini é editor de vitrine online)