EXCLUSIVO – RAIO-X DA SAÚDE PÚBLICA EM IBIÚNA
Há um ano e dois meses no cargo, o secretário da Saúde do Município de Ibiúna, farmacêutico Valdir Messias, 54, tem imensos desafios pela frente. O maior deles, talvez, seja remover a má fama do Hospital Municipal, com históricos e graves problemas estruturais e de gestão.
Malvisto por grande parte da população que se queixa de falta de médicos, de medicamentos, de demora no atendimento, de atraso de pagamento aos profissionais da saúde, motivo de paralisações e greves, chegou a fechar no governo ironicamente chefiado por um médico.
É oportuno mencionar que o hospital ficou com má fama também entre os médicos, sobretudo por ficar conhecido como mal pagador. Quando veem nas listas de chamada pedido de plantão para o hospital de Ibiúna, a reação é imediatamente negativa.
Outro problema não menos importante é a retomada do funcionamento do Programa Saúde da Família na rede básica que deveria funcionar em 14 postos de saúde e que está paralisado desde dezembro por falta de licitação, já que a empresa que vinha operando nesse segmento por contrato emergencial não teve seu contrato renovado.
Em entrevista a vitrine online, que contou com a participação da enfermeira chefe Claudirene Felipe Araújo de Camargo, no seu gabinete em sala contígua ao hospital, Messias cravou seu objetivo: “Na nossa gestão vamos melhorar pelo menos a saúde básica no município.”
Quando foi convidado para esse cargo, o secretário, dono de uma farmácia há 30 anos no distrito do Paruru, pensou em não aceitar, no que teve o apoio de seus familiares. Mas, resolveu encarar a missão de maneira resoluta:
“Quando terminar meu mandato, por tudo que me dispus a realizar, vou andar de cabeça erguida, porque vou dar o meu melhor para a população.”

HOSPITAL
Diante da pergunta sobre falta de médicos e de medicamentos no hospital, Messias foi taxativo: “Não faltam médicos e nem medicamentos, pode ir à farmácia e verificar com a farmacêutica.”
A gestão do Hospital Municipal de Ibiúna é do Igats – Instituto de Gestão e Treinamento em Saúde, com sede no município de Osasco. Pelo fornecimento de profissionais de saúde, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, etc., recebe mensalmente R$ 1,6 milhão. Responsável pela compra de medicamentos é remunerada mensalmente contra apresentação de notas fiscais por um montante entre R$ 150 a R$ 300 mil. Considerando ambos os valores o custo anual do hospital fica em torno de R$ 20 milhões.
A enfermeira-chefe Claudirene explica que as equipes médicas são constituídas por 6 profissionais: 3 médicos no Pronto Socorro Adulto, 1 no Pronto Socorro Infantil, 1 ginecologista e 1 anestesista.
Como esses números são fixos, é preciso explicar uma das razões por que pode haver falta de médicos e, portanto, alongamento no período de atendimento aos pacientes.
Se, por exemplo, há ocorrências graves, que exigem atendimento de urgência e transferência de pacientes graves para outros hospitais, em Sorocaba ou São Paulo, no mínimo um médico e um enfermeiro seguem junto na ambulância. Por isso, há desfalque no atendimento. Se por ventura ocorrem duas ocorrências graves, então o pronto socorro pode ficar apenas com um médico para atender uma demanda em geral considerável.
É natural perguntar diante desse quadro por que não se convocam outros médicos para dar cobertura nesse período de vacância. Resposta: o custo é elevado. Também para a população.
MUDANÇAS ESTRUTURAIS
Valdir Messias afirmou a vitrine online que estão em curso medidas estruturais do hospital e dos equipamentos.
Segundo ele, em junho estará concluída a obra de substituição do telhado que, por desgaste e falta de manutenção, estava provocando goteiras e vazamentos nas áreas internas, como a Casa da Gestante, em que houve necessidade de remoção de pacientes em quarto que estava inundando.
Por conta dessa obra, o número de leitos para internação foi reduzido de 59 para 25, mas a totalidade deverá ser restabelecida, assim que o telhado novo for concluído.
CIRURGIAS ELETIVAS
O secretário anunciou que o centro cirúrgico será totalmente reformado e receberá novos equipamentos e estará pronto para funcionar em junho. Por isso, já está solicitando autorização da Delegacia Regional da Saúde, em Sorocaba, para a retomada de cirurgias eletivas de baixa e média complexidade, como retirada da vesícula, apendicite, hérnia, vasectomia, entre outras, que há tempos estão paralisadas.
O motivo pelo qual o hospital não pode realizar cirurgias mais complexas se deve ao fato de não possuir UTI, indispensável para casos de maiores riscos.
SAÚDE DA FAMÍLIA
Desde dezembro último, o Programa da Saúde da Família está interrompido nos postos de saúde do município. Isto porque o contrato emergencial com a organização que vinha atendendo esse programa venceu e não foi renovado.
O secretário disse, no entanto, que o processo de licitação para contratar novo prestador desse serviço está em andamento. Quatro empresas se interessaram e a comissão licitatória deverá escolher “a melhor proposta de gestão que inclui médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, administrador e agente comunitário”.
Valdir Messias entende que esse serviço é indispensável para “desafogar o hospital municipal”, além do que facilita o acesso da população e uma familiaridade importante com os agentes de saúde.
A previsão é que a volta do Programa da Saúde da Família deverá ser em abril próximo, uma boa notícia para milhares de pessoas residentes na extensa área rural do município.
EXAMES LABORATORIAIS
Durante audiência pública sobre saúde realizada na Câmara Municipal no dia 23 de fevereiro, o secretário ouviu queixas de um cidadão de que não havia recebido o resultado impresso de exames laboratoriais, apontando que o sistema estava funcionando de modo insatisfatório na apresentação dos resultados aos pacientes.
Uma profissional da saúde presente no auditório admitiu o problema e disse que seria resolvido.
O secretário informou que o hospital realiza por ano 8 mil exames no hospital e 23 mil na rede básica de saúde. Atualmente, as coletas estão sendo feitas somente no Posto de Saúde Central e no Hospital, mas as coletas deverão voltar a ser feitas nos postos em abril. Ele aventou a possibilidade de aumentar a autorização de exames por dia, atualmente equivalentes a 25 exames por posto, no total de 250 por dia.
Na conclusão da entrevista Valdir Messias fez um balanço, uma espécie de breve raio-X da saúde pública no município de Ibiúna:
“Temos uma população de 100 mil habitantes, em um município que acolhe milhares de pessoas em veraneio, como pode ter passado por uma situação tão precária no campo da saúde, como Ibiúna passou?”